sábado, 31 de maio de 2008

Artigos sobre tradução

Tempos atrás, descobri o Translation Directory, um portal repleto de dicas, ofertas de trabalho e outros tópicos relevantes para tradutores. Sugiro especialmente a seção de artigos, divida por assuntos.
Os artigos sobre English Grammar são úteis para quem trabalha com versões ou deseja aprimorar os conhecimentos nessa área.
Os textos da categoria Working as a Freelancer que tratam de questões práticas desde a organização do escritório e da agenda até a criação de um site ou blog também são proveitosos.
Outra categoria interessante é a de Translation Theory. Destaco dois artigos controversos que dariam excelentes tópicos de discussão para tradutores cristãos: Global Translation: the Dream of a Translation Tower of Babel e Hermes - God of translators and interpreters.
Boas leituras!

sábado, 24 de maio de 2008

Paulo e suas senhoritas, Branca de Neve e sua folha

Um dia desses, estava traduzindo um comentário bíblico quando me deparei com a seguinte frase: “The apostle Paul was not interested in wild misses”. Sem contexto, a frase poderia ser traduzida como: “O apóstolo Paulo não estava interessado em senhoritas arrojadas”. Pode até ser verdade, mas sem dúvida não era isso que o autor queria dizer. O contexto era 1Coríntios 9.25-26: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar”. Oh, I see... Diante disso, considerei apropriado traduzir a frase como: “O apóstolo possuía um objetivo e se esforçava para alcançá-lo”, ou algo do gênero. Esse pequeno episódio me fez voltar ao segundo capítulo do livro Quase a mesma coisa, o rico texto de Umberto Eco sobre tradução.

A certa altura, Eco observa:

Portanto, em um texto — que já é substância realizada — temos uma Manifestação Linear (o que se percebe, lendo ou ouvindo) e o sentido ou sentidos daquele determinado texto. Quando tenho de interpretar uma Manifestação Linear recorro a todos os meus conhecimentos lingüísticos, mas um processo bem mais complicado acontece no momento em que tento distinguir o sentido do que me é dito.

Como primeira tentativa, tento compreender o sentido literal, se não for ambíguo, e correlacioná-lo eventualmente a mundos possíveis: assim, se leio Branca de Neve come uma maçã, saberei que um indivíduo de sexo feminino está mordendo, mastigando e engolindo pouco a pouco uma fruta assim e assado, e farei uma hipótese sobre o mundo possível onde se está desenrolando a cena. É o mundo em que vivo e no sal se considera que an apple a day keeps the doctor away ou um mundo fabulístico onde, ao comer uma maçã, pode-se cair vítima de um sortilégio? Se decidisse pelo segundo sentido, é claro que recorreria a competências enciclopédicas, entre as quais existem também as competências de gênero literário, e a enredos intertextuais (nas fábulas acontece geralmente que...). Naturalmente, continuarei a explorar a Manifestação Linear para saber algo mais sobre essa Branca de Neve e sobre o lugar e a época em que se desenrola a história.

Mas é bom notar que, se lesse Biancaneve ha mangiato la foglia [Branca de Neve comeu a folha], provavelmente recorreria a uma outra série de conhecimentos enciclopédicos, com base nos quais os seres humanos raramente comem folhas: daí daria início a uma série de hipóteses a serem verificadas no curso da literatura para decidir se Branca de Neve não seria, por acaso, o nome de uma cabritinha...

“Paulo e suas senhoritas” e Branca de Neve com suas maçãs e folhas servem para nos lembrar da importância de mantermos o contexto em mente a todo tempo enquanto trabalhamos. Um tradutor pouco familiarizado com textos bíblicos que se esquecesse do contexto poderia, por exemplo, considerar aceitável traduzir a high priest [um sumo sacerdote] como “um padre embriagado” e assim por diante.

Além do contexto imediato da frase, não podemos nos esquecer do pano de fundo mais amplo: a obra em que se encontra e o tempo, a cultura e a realidade em que foi escrita.

Eco termina o capítulo comentando:

Como em um texto com finalidade estética colocam-se relações sutis entre os vários níveis de expressão e do conteúdo, é em torno da capacidade de identificar esses níveis, de restituir um ou outro (ou todos, ou nenhum) e de saber colocá-los na mesma relação em que estavam no texto original (quando possível), que se joga o desafio da tradução.

Se você tem exemplos de frases traduzidas fora de contexto, compartilhe-as conosco, acompanhadas, evidentemente, da tradução apropriada.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Os doze mandamentos da tradução literária

Encontrei estes "Doze mandamentos da tradução literária" num post antigo do excelente blog Brave New Words, de B. J. Epstein. Foram extraídos do livro de Clifford E. Landers: Literary Translation: A Practical Guide.
Se você tem outros "mandamentos", aproveite para compartilhá-los conosco.



The Twelve Commandments of Literary Translation

I Thou shalt honor thine author and thy reader.
II Thou shalt not ‘improve’ upon the original.
III Thou shalt read the source text in its entirety before beginning.
IV Thou shalt not guess.
V Thou shalt consult thine author and other native speakers.
VI Thou shalt consult earlier translations only after finishing thine own.
VII Thou shalt possess – and use – a multitude of reference works.
VIII Thou shalt respect other cultures.
IX Thou shalt perceive and honor register and tone, that thy days as a translator may be long.
X Thou shalt not commit purple prose.
XI Thou shalt maintain familiarity with the source-language culture.
XII Thou shalt fear no four-letter word where appropriate.

Epstein faz uma observação importante acerca do décimo-primeiro mandamento:
"I would add to the eleventh commandment that a translator should maintain familiarity with the target-language culture, too, as well as to both languages".


sábado, 10 de maio de 2008

O Tradutor Supremo


Não é obrigatório ser pentecostal nem católico para lembrar que no próximo domingo, dia 11 de maio, comemora-se Pentecostes ou a festa do Divino Espírito Santo.

Tudo começou quando Deus ordenou aos israelitas recém-saídos do Egito que celebrassem a “Festa das Primícias”, na qual deviam apresentar ao Senhor os primeiros frutos da colheita. A festa seria observada num domingo, cinquenta dias depois da Páscoa, daí o nome Pentecostes que, em grego, significa “quinquagésimo”.

Vários séculos se passaram e, logo depois da morte, ressurreição e ascensão de Jesus, algo extraordinário ocorreu em Jerusalém. Um grupo de seguidores de Cristo estava reunido numa casa quando todos ouviram um som como de trovão. Um vento forte envolveu e encheu o local e, sobre a cabeça de cada um dos presentes apareceu uma espécie de chama, uma língua de fogo.

Todos receberam dentro de si o Espírito Santo, conforme Jesus havia prometido aos seus discípulos antes de partir: “O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João 14.26).

Jesus sabia que não ficaria muito tempo na terra com seus discípulos. Também sabia que, como todos nós, eles tinham memória de peixe e volta e meia sofriam crises de pânico. Garantiu, portanto, que quando ele próprio não estivesse mais por perto de forma visível, o “Consolador” os socorreria e lhes refrescaria a memória.

“Consolar” quer dizer aliviar o sofrimento. O Espírito Santo alivia o nosso sofrimento ao nos ajudar a lembrar do amor e cuidado de Deus por nós e entender as verdades que Cristo ensinou. O verbo “consolar” também pode ser traduzido como “confortar”, que significa dar forças, fortificar.

Mesmo quando não entendemos as dificuldades que enfrentamos, o Espírito que habita dentro de nós compreende o agir de Deus em nossa vida. Ao mesmo tempo, conhece “o nosso lado da história”.

Tamanho é o amor de Deus Pai e de Cristo, o Filho, por nós que não nos deixaram sozinhos, entregues à nossa própria sorte para tentar obedecer aos preceitos de Deus e ser imitadores de Cristo. Enviaram o Espírito Santo, uma parte deles mesmos (!) para nos ajudar em todas as coisas.

Uma das verdades acerca do Espírito que me anima e comove é seu papel como o mais perfeito de todos os tradutores-intérpretes. Quando não somos capazes de nos comunicar devidamente com Deus, o Espírito “intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Traduz anseios que mal conhecemos e expressa para o Pai, de modo adequado, aquilo que se passa no mais íntimo de nosso ser.

Creio que o Espírito nos ajuda, ainda, a articular nosso louvor, adoração e gratidão a Deus. Além disso, ele guia, ensina, dá vida, fortalece, nos capacita para ajudarmos outros cristãos a crescerem e se desenvolverem, concede fé, faz milagres, luta conosco nas guerras espirituais que enfrentamos, nos alegra, regenera e renova, oferece esperança e liberdade, e por aí afora.

Nem sempre vamos sentir o calor da chama do Espírito dentro de nós, mas se tomarmos o sério propósito de andar com Deus a cada dia, saberemos que o Espírito está presente, nos ajudando e fortalecendo em todas as coisas.

Quando estivermos sobrecarregados de serviço ou aflitos por falta de clientes, angustiados com prazos, cansados de ver o Word aberto na tela do computador e perdidos na organização de nossas prioridades, o Espírito nos socorrerá.

Quando estivermos felizes e realizados, motivados por projetos empolgantes e alegres com as dádivas de Deus, o Espírito nos ajudará a lembrar de agradecer e louvar ao Doador.

A Festa das Primícias convidava os israelitas a demonstrarem gratidão e confiança na provisão de Deus. Os primeiros frutos eram promessa e garantia de uma colheita abundante. De acordo com Romanos 8.23, temos “as primícias do Espírito” dentro de nós e 2Coríntios 1.22 diz que Deus “nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração”.

Pentecostes nos convida a demonstrar gratidão e confiança em Deus. Gratidão porque Deus nos socorre e cumpre seus propósitos na vida dos cristãos e na Igreja de Cristo mediante a operação do Espírito Santo. Confiança, porque o Espírito que habita em nós é a garantia de que todas as promessas de Deus se cumprirão no devido tempo e a maior de todas as promessas é a de vida eterna com o Deus Triuno.

Um alegre Pentecostes para você!

(Tirei a foto acima em Parati durante a Festa do Divino em 2006.)