sábado, 1 de dezembro de 2007

Constance Garnett e os russos

Quando comecei a ler Guerra e Paz de Tolstoy em inglês, a primeira coisa que procurei no livro foi uma introdução ou comentário sobre a tradutora Constance Garnett. Como se trata de uma daquelas edições populares da Barnes & Noble, o livro mal e mal tem capa, quanto mais informações relacionadas à tradução. Coincidentemente, semana passada, encontrei um artigo de David Remnick na revista New Yorker sobre Constance Garnett e outros profissionais que traduziram os grandes escritores russos. O artigo é longo, mas vale a pena.
Sobre o estilo por vezes desleixado de Garnet, Remnick comenta:

Garnett’s flaws were not the figment of a native speaker’s snobbery. She worked with such speed, with such an eye toward the finish line, that when she came across a word or a phrase that she couldn’t make sense of she would skip it and move on. [!!!] Life is short, “The Idiot” long. Garnett is often wooden in her renderings, sometimes unequal to certain verbal motifs and particularly long and complicated sentences.

O artigo também descreve o processo de trabalho de uma das traduções mais recentes de The Karamazov Brothers e fala do trabalho de Vladimir Nabokov como tradutor. Aliás, é dele o poema sobre a impossibilidade da tradução:

What is translation? On a platter
A poet’s pale and glaring head,
A parrot’s screech, a monkey’s chatter,
And profanation of the dead.
The parasites you were so hard on
Are pardoned if I have your pardon,
O Pushkin, for my stratagem.
I travelled down your secret stem,
And reached the root, and fed upon it;
Then, in a language newly learned,
I grew another stalk and turned
Your stanza, patterned on a sonnet,
Into my honest roadside prose—
All thorn, but cousin to your rose.

A tradução de Garnett pode não ser impecável, mas, uma vez que meu conhecimento de russo se limita a palavras como vodka, samovar e perestroika, não posso tecer nenhuma crítica fundamentada. De um modo geral, a linguagem é clara e, apesar de todos os nomes, sobrenomes, patronímicos, apelidos, frases em francês, notas de rodapé e notas finais (ufa!), acredite ou não, a história flui e envolve.

Ou a narrativa de Tolstoy é tão extraordinária que sobreviveu a uma tradução muito aquém do ideal, ou Garnett, apesar de suas falhas, conseguiu captar a voz do autor e as ironias, o heroísmo e o espírito da época. Talvez um pouco dos dois...

Para quem quiser ler mais sobre Tolstoy e os personagens de Guerra e Paz, a mesma revista traz um artigo esclarecedor de James Wood.

Um comentário:

Guilherme Montana disse...

Cheguei aqui, no seu blog, pelo talqualmente. A tradução que tenho do War & Peace é essa da Constance Garnett. Li um Anna Karênina legível até demais, depois que descobri que era versão de uma tradução francesa. Quis me aventurar nessa tradução da Garnett, mas depois de tudo que li, inclusive esse artigo aí do Remnick, mudei de idéia e vou esperar a tradução do Rubens Figueiredo, que sairá em 2011, pela Cosac & Naify. Ou o jeito será aprender russo daqui pra lá...