sábado, 15 de março de 2008

Na reta final da Quaresma

Estamos na última semana da Quaresma. Quem não é católico talvez considere esses quarenta dias entre o Carnaval e a Páscoa apenas um longo e árduo intervalo entre um feriado e outro. A meu ver, porém, a Páscoa constitui, para qualquer cristão, a ocasião que define sua identidade e suas crenças.
Comparada com a Páscoa, a comemoração do Natal parece até meio light; é muito mais cômoda e fácil de aceitar e participar. Mas o que dizer dos acontecimentos do Calvário e do terceiro dia depois? Nada exige de nós uma decisão tão clara quanto a morte e ressurreição de Cristo.
Entra em cena a Quaresma.
Não estou dizendo para passarmos a semana jejuando ou andando por aí vestido de panos de saco e com cinzas na cabeça. Sugiro apenas que separemos estes dias que antecedem uma data tão importante para refletir um pouco.
A proposta pode parecer fácil, mas como colocá-la em prática quando há uma pilha de originais de um lado da mesa, uma lista de “coisas a fazer” do outro e deadlines se aproximando a uma velocidade assustadora?
Senhor, concede-nos graça, forças e sabedoria para manter nossas prioridades em ordem!

Felizmente, não é tarde demais para pensar no significado da Quaresma, acalmar nosso coração e prepará-lo para comemorar a Páscoa. Em tempo, isso não significa uma corrida ao supermercado para comprar duzentos ovos de chocolate para amigos e familiares.

1. O que significa, então?
Quaresma: Quarenta dias destinados à penitência.
Penitência: Sentimento pungente de arrependimento por pecados cometidos, menos pelo receio do castigo do que pelo amor e gratidão a Deus.

2. Qual a diferença entre arrependimento e remorso?
Remorso: Sentimento de inquietação da consciência por um pecado cometido. Não produz, necessariamente, mudança de atitude.
Arrependimento: Contrição motivada pelo amor a Deus. Não é apenas um sentimento, mas também uma decisão que leva a mudanças e produz resultados.

3. O que a Bíblia diz sobre o verdadeiro arrependimento?
“É a bondade de Deus que te conduz ao arrependimento” (Rm 2.4).
“Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao Senhor” (Os 14.2).
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados (At 3.19).
“Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; o coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17).
“Fostes contristados para arrependimento [...] Segundo Deus, para que de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar, mas a tristeza do mundo produz morte” (2Co 7.9-10).
“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.8).

4. O que tudo isso tem a ver conosco?
Somos profissionais pacatos, seres humanos dedicados ao Senhor. Não temos uma vida libertina, vamos à igreja quase todos os domingos e até lemos e escrevemos blogs sobre as coisas de Deus. Passamos o dia inteiro trabalhando em casa ou numa empresa cristã e talvez nosso mundo pareça razoavelmente seguro, sem grandes tentações ao pecado.

Será?

Como administramos o tempo e os recursos que Deus nos dá? Como tomamos decisões pessoais e profissionais? Como anda nossa ética de trabalho? Qual é o fundamento do nosso sistema de valores? A quem procuramos agradar? Para quem vivemos?
Peço a Deus que esta semana seja um tempo de reflexão e ação. Que Deus nos dê arrependimento. Que tenhamos um coração contrito e profundamente preocupado em agradar ao Senhor. Que, depois de confessar nossos pecados, possamos aceitar o perdão de Deus. Que nosso arrependimento seja produtivo e promova mudanças (pequenas ou grandes, mas sempre práticas).

E, por fim, que possamos nos alegrar com a salvação que nos foi concedida pela morte e ressurreição de Cristo e vivamos cada vez mais em função desse fato.

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