quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Secretários de Deus - I

Estou lendo em doses homeopáticas o livro Maravilhosa Bíblia (São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 2008) de Eugene Peterson, tradução de Neyd Siqueira.

Comecei pela Parte II sobre Lectio Divina, uma prática a ser resgatada e da qual Peterson trata de modo bastante proveitoso.

A Parte III – “A companhia dos tradutores”, de grande interesse para nossa área, fala das traduções da Bíblia e do papel do tradutor em sua compreensão.

Há quem imagine que a tradução dos textos bíblicos é trabalho do passado remoto, encerrado com a Bíblia King James ou a versão de João Ferreira de Almeida. Mas é preciso lembrar que ainda há muitos tradutores labutando para captar com precisão as várias nuanças da Palavra em suas línguas originais e transmiti-las a nós em linguagem viva e acessível. Alguns desses tradutores, como o próprio Eugene Peterson (Bíblia The Message), têm renome internacional; outros trabalham no quase anonimato em várias partes do mundo, inclusive em solo brasileiro.

Quer sejamos ligados à área editorial ou não, é nosso privilégio como cristãos orar por esses tradutores e apoiá-los de acordo com nossas oportunidades e possibilidades.

Afinal, nas palavras do filósofo e teólogo Franz Rosenzweig: “Cada tradução é um ato messiânico que torna a redenção mais próxima”.

Abaixo, alguns trechos da terceira parte, capítulo 8 - “Os secretários de Deus”:

A grande maioria dos homens e mulheres que ouviram e/ou leram a Palavra de Deus, como revelada nas Escrituras e proclamada, o fez com a ajuda de uma vasta companhia de tradutores. Se não fosse pelo trabalho desses tradutores, a maioria deles anônima, haveria pouca leitura e menor probabilidade de se ouvir a Palavra de Deus. A Bíblia é o livro mais traduzido do mundo. […]

A tradução das Escrituras tornou-se necessária centenas de anos antes dos dias de Jesus. O mesmo aconteceu com a igreja primitiva, quando a sua língua original, o hebraico, foi gradualmente substituída na vida diária do povo de Deus, primeiro pelo aramaico, depois pelo grego.

Tradução para o aramaico

A tradução para o aramaico desempenhou um papel decisivo nos anos que se seguiram à volta de Israel do exílio babilônico, no século IV a.C. Em 583 a.C., o líder persa Ciro, que tinha idéias liberais, livrou Israel de seus anos de exílio, permitindo que o povo voltasse à terra natal, na Palestina. O aramaico era a língua oficial do império perda […] os idiomas que incluíam o hebraico de Israel foram postos de lado pelo aramaico, a língua oficial do governo e do comércio. […]

Temos um vislumbre do início desse processo de transformação do hebraico para o aramaico na história de Esdras e Neemias. […] [que] haviam viajado das regiões orientais do império persa para Jerusalém a fim de encorajar os desmoralizados judeus, que haviam retornado do exílio na Babilônia. […]

Esdras levou consigo uma cópia da Lei de Moisés escrita em hebraico original. […]

Havia, porém, um problema. O povo, que perdera o contato com o próprio passado, também se distanciara de sua língua, o hebraico; embora a maioria deles certamente a compreendesse, não era mais a língua materna. […] As pessoas tinham sido criadas falando aramaico. […]

Aparentemente, o grande empreendimento de recuperação da identidade almejado por Esdras exigia a ajuda de intérpretes. Por sorte, os levitas, a classe sacerdotal responsável por manter contato com suas raízes mosaicas, continuaram bons conhecedores do hebraico. Assim, enquanto Esdras lia o rolo escrito em hebraico, treze levitas colocados estrategicamente no meio da congregação reunida, ficavam “interpretando-o e explicando-o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido” (Ne 8:8).

“Explicando-o” não era, provavelmente, uma tradução no sentido estrito do termo, mas uma ajuda ao povo, ao explicar e interpretar o que Esdras lia naquele texto longo, negligenciado e, agora, pouco familiar. […] foi uma iniciativa que fez mais do que simplesmente fornecer termos equivalentes às palavras lidas naquele dia. O trabalho de tradução interpretativa dos levitas envolveu a vida, o coração e a alma, e não apenas a mente do povo: a princípio, as pessoas choraram e depois se regozijaram, “pois agora compreendiam as palavras que lhes foram explicadas” (Ne 8.9-12). Esse é o resultado pretendido pela verdadeira tradução: provocar o tipo de compreensão que envolve a pessoa inteira em lágrimas e riso, coração e alma, naquilo que é escrito e é dito.

To be continued...

Leia a sinopse, um trecho do livro e comentários no site da Editora Mundo Cristão.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O preço por lauda é R$20, graças ao bom Deus. Amém, irmão?


Semana passada, li um texto de tema controverso mas de implicações muito práticas: Cristãos que procuram dar seu testemunho de forma indireta. Há quem acredite que vale tudo: adesivo nos cadernos, capacete, bicicleta, carro (p.ex.: “Em caso de arrebatamento, este veículo ficará desgovernado” ou “Rastreado pelo Espírito Santo”), "camiseta confessional", Bíblia tamanho família debaixo do braço, mesa do escritório que mais parece um formigueiro de tanta parafernália do Smilingüido, capacho “Jesus Te Ama” na porta do apê, e por aí afora.

Mas será que desfilar feito um carro alegórico da “Unidos da Vila Gospel” corresponde ao exemplo bíblico de testemunho?
A autora questiona de maneira bastante apropriada qual é a motivação por trás desses gestos e conduz a uma reflexão saudável sobre o modo como compartilhamos (ou deixamos de compartilhar) nossa fé. Incluí trechos do artigo no final do post, mas vale a pena ler o texto completo e, especialmente, os comentários dos leitores.

E nós com isso?

O tradutor cristão que trabalha com clientes “seculares” (essa divisão é conversa para outro dia) pode se perguntar quais são as maneiras apropriadas de falar de Cristo nesse contexto. Não sei como é com você, mas no meu contato com editoras não-cristãs, tenho pouquíssimas oportunidades de falar de questões de fé. De acordo com algumas linhas de evangelismo, precisamos criar oportunidades. Como fazer isso, porém, quando conversamos três ou quatro vezes por e-mail com um cliente e depois nunca mais falamos com ele? Ainda estou tentando descobrir a resposta.

“O ser humano é pecador e não pode salvar-se a si mesmo. A vida eterna é um presente que Deus nos dá porque Jesus morreu na cruz por nossos pecados e nos proporciona gratuitamente um lugar no céu. Precisamos aceitar esses fatos pela fé, confiando em Jesus Cristo para a vida eterna”.

Eis a mensagem mais preciosa e importante que podemos transmitir a alguém. Leva pouco mais de 10 segundos para dizer as palavras, mas não é tão simples assim… Ou será que é?

Enquanto não chego a uma conclusão (sugestões são bem-vindas), procuro compartilhar minha fé com as pessoas que tenho menos contato das seguintes formas:
1. Por meio deste blog.
2. Cartões de Páscoa, Natal, Ano Novo, etc (de preferência, acompanhados de cookies ou brownies).
3. PRINCIPALMENTE, pedindo que Deus me ajude a viver a mensagem de 10 segundos ao longo das horas do dia: práticas honestas, cumprimento de prazos, preços justos, e por aí afora.

Como você compartilha sua fé no local de trabalho?

Secondhand Faith
by Holly Vicente Robaina
We can’t expect T-shirts, jewelry, and bumper stickers to do all the work.
[...]
I've often wondered why some Christians wear "Jesus" T-shirts and cross necklaces. I'm not sure what people hope to convey with bumper stickers reading, "In case of rapture, this car will be unmanned."
I suspect many believers think their T-shirts and the like will attract non-believers to Jesus. I've heard Christians refer to their inspirational paraphernalia as "conversation starters" for the purpose of evangelism. But do these things actually serve as icebreakers for real conversation? Or do they just make us feel we've witnessed, without ever saying a word?
This "secondhand evangelism" doesn't seem very effective. [...]
T-shirts and other Christian paraphernalia may have a similar effect: repelling rather than inviting. We've all probably seen the "Darwin" version of the Christian ichthus (the fish symbol), or the bumper sticker reading, "In case of rapture, can I have your car?" The existence of antisymbols and slogans proves many people find Christian paraphernalia offensive. Certainly, we're not wrong to represent faith through our possessions. But we too often let symbols serve as the sole representation of our faith. When our next-door neighbors think about us, they should see us as the ones who say "Hello" every day. The ones who bring a plate of cookies at Christmas. The ones who volunteer to baby-sit or pick up their mail when they're on vacation. We shouldn't simply be the adjacent house's inhabitants who have a fish sticker on our minivan.
Our desire to display Christian paraphernalia may come from a good place. We want people to see what God's done in our lives. We want others to experience the difference Jesus can make in theirs. But we need to do more than just wear our faith on our sleeves, around our necks, or on our bumpers. We need to make ourselves available for real conversations, and pray God uses our lives and words to speak to others. […]

1) If you wear or display Christian paraphernalia, what are your reasons for doing so?
2) Do your actions back up your symbolic statement?
3) Is your witness limited to these displays, or are you having real conversations about your faith? How well do friends, co-workers, and neighbors who aren't Christians know you personally, and how well do you know them?

It's also important for Christians to consider how their bumper stickers/t-shirts/etcetera are perceived. In my opinion, there are some slogans that are clearly offensive, damaging, and not God-honoring (e.g. "Turn or Burn"). Again, we need to consider our actions. Are we acting in love? Or are we displaying Christian words and symbols out of pride, to incite, or to express superiority to non-believers?
Even if we're not wearing a "Jesus" t-shirt, we must continually ask ourselves: Do our words and actions reflect our faith in God? Are we "prepared to give an answer to everyone who asks you to give the reason for the hope that you have" and doing this "with gentleness and respect" (1 Peter 3:15, emphasis mine)? These are very important questions for every Christian to consider.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Abaixo, alguns artigos que li esta semana e links que talvez sejam de seu interesse.

Notícia curta, sobre lançamento da Knol, enciclopédia online da Google que, supostamente, não quer concorrer com a Wikipedia, mas sim complementá-la. Uma busca pelo termo "translation" retornou cinco itens. Ao que parece, ainda vai demorar algum tempo para se tornar uma ferramenta útil para nossa área. Alguém se dispõe a escrever um "knol" (como são chamados os artigos)? Uma vez que todo knol deve ser assinado, e não anônimo como os verbetes da Wikipedia, para alguns profissionais pode ser um meio de divulgação...

O blog da Cook Partners tem uma seção sobre tradução, com artigos como este: How switching languages can change your personality. O artigo é breve, mas os comentários de leitores mostram que o tema rende uma boa discussão.

Um tanto off-topic (será?), mas não necessariamente menos relevante, é o artigo do New York Times sobre o impacto causado pelas mulheres que escrevem blogs: Blogging's Glass Ceiling.

Recebi um e-mail esta semana com a divulgação de um site chamado Guia de Autônomos onde prestadores de serviço podem anunciar gratuitamente. Procurei "Tradutor" na janela de Busca Rápida e encontrei mais de 30 cadastrados, divididos por Estado.

That's all for now!