quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Considerações acerca do tempo

Mais de um ano atrás, estudamos em nossa classe de escola dominical um ótimo livreto chamado A Tirania do Urgente de Charles E. Hummel (publicado pela Ed. Cultura Cristã, 2003; trad. Heloísa Martins. As lições são baseadas num livro homônimo da CPAD). A série de estudos ministrada pela professora Roseli Moura foi extremamente proveitosa, mas lidar com o tempo continua sendo um desafio pessoal. Minha resposta à pergunta da introdução do livro: “Você já desejou ter um dia de trinta horas?”, é: “Com certeza!”. Mas a introdução prossegue:

Nossa vida deixa um rastro de tarefas inacabadas. Cartas [e e-mails!] não respondidas, amigos que não conseguimos visitar, livros não lidos que nos perseguem em momentos silenciosos quando paramos para avaliar nosso desempenho. Precisamos desesperadamente de alívio.

Mas será que um dia mais longo resolveria nosso problema? Não estaríamos dentro de pouco tempo, tão frustrados quanto nos encontramos hoje com nossa porção de vinte e quatro horas? Dificilmente escaparíamos do princípio de Parkinson, segundo o qual: “O trabalho se expande até preencher todo o tempo disponível”.
Quando paramos o suficiente para pensar e analisar os fatos, descobrimos que o dilema é muito mais profundo do que mera falta de tempo. Basicamente, é um problema de prioridades. Trabalho duro e intenso não nos faz mal [...] Não é o trabalho intenso, mas a dúvida e a apreensão que produzem ansiedade quando avaliamos um mês ou um ano e nos sentimos oprimidos diante da pilha de tarefas não terminadas. [...] As pressões exercidas pelas exigências de outras pessoas e por nossas próprias compulsões internas acabam por nos levar a um atoleiro de frustração.


Em seis lições, o autor propõe algumas formas de mudarmos o modo de encarar nossa relação com o tempo. Abaixo, algumas considerações sobre o tema:

1. Existe uma tensão entre o urgente e o importante. Certas coisas importantes, como gastar tempo com Deus e com os amigos, podem esperar. As tarefas urgentes, por outro lado, exigem ação imediata. Tornamo-nos escravos sob a tirania do urgente. Êxodo 18.13-24 mostra como Moisés lidou com essa tensão. Ele aceitou um conselho, reavaliou suas prioridades e delegou tarefas.

2. O tempo é inadministrável. As horas passam não obstante o nosso desejo. Não administramos o tempo, mas sim, a nós mesmos e às oportunidades que surgem ao longo do dia. Estabelecemos objetivos e prioridades e realizamos tarefas utilizando o tempo sob o senhorio de Cristo.

3. Nossa postura diante do tempo: devemos ser / estar disponíveis para o Senhor, pedindo sua direção para as prioridades.

4. O que a Bíblia diz:

“Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades” (Cl 4.5, NVI).

“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Ef. 5.15-17, RA). Remir o tempo significa libertá-lo das atividades inapropriadas e usá-la para aquilo que ele foi feito, a saber, servir a Deus, aprender de Deus, encorajar uns aos outros.

“Ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama "hoje", de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado, pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio” (Hb 3.13-14). Uma exortação à veracidade, à santidade e à perseverança na fé.

“Pois nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.7-8). A vida e o tempo de cada um de nós pertencem ao Senhor. Ao aceitarmos a Cristo, colocamos nossa vida sob nova direção.

“O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9, RA).

O que tudo isso significa na prática? Devemos passar nossos dias em contemplação no alto de um monte? Deus espera que coloquemos de lado nossas responsabilidades, tarefas e prazos? Claro que não, pois muitas dessas tarefas são decorrentes das oportunidades e talentos que ele mesmo nos dá.

Se o Senhor capacitou você para traduzir ou realizar qualquer outro trabalho, ele espera que você o sirva durante algumas horas do dia dessa maneira. O número de horas e tarefas será determinado pelo seu sistema de prioridades. Estas, por sua vez, serão definidas pelo nível de relacionamento e compromisso com Deus.

Por que Deus não acrescenta horas ao nosso dia?

Talvez o Senhor queira que nos aproximemos dele para aprender a usar as horas que já temos à nossa disposição. Talvez ele deseje nos ensinar a administrar as tarefas diárias de acordo com padrões diferentes dos nossos, padrões divinos.

Uma coisa é certa: à medida que aprendemos a reconhecer a soberania de Deus sobre nossa agenda, ele não dá dias de trinta horas, mas faz as vinte e quatro horas de sempre renderem miraculosamente!

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