segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Welcome, newbies!


Alguns consideram os novos profissionais que ingressam em nossa área uma ameaça. Outros, do alto de seus zilhões de anos de experiência, não se dignam sequer a chamá-los colegas. É verdade que toda profissão tem seus amadores e picaretas. Nem por isso é sábio torcer o nariz para aqueles que estão entrando no mercado. Por outro lado, não podemos ser ingênuos. Os iniciantes sérios têm pelo menos três características e devem ser recebidos de braços abertos por três motivos:

1. Procuram realizar seu trabalho de forma ética. / Precisamos de profissionais dedicados e leais para contrabalançar o amadorismo e a concorrência suja.

2. Esforçam-se para crescer em conhecimento e competência. / Precisamos de profissionais humildes, dispostos a reconhecer suas limitações e trabalhar para superá-las e a admitir seus erros e fazer todo o possível para não repeti-los.

3. Desejam contribuir para desenvolver sua área de atuação. / Precisamos de profissionais generosos, prontos a passar adiante suas experiências e conhecimento.

Na verdade, não só devemos acolher pessoas assim, como também necessitamos, com a graça e o auxílio de Deus, nos tornar pessoas assim: dedicadas, leais, humildes e generosas.

Por mais sérios e competentes que sejamos, não vamos viver para sempre neste mundo. Podem me chamar de Poliana idealista, mas se desejamos deixar um legado relevante para as futuras gerações de tradutores e fazer alguma diferença em nossa área, precisamos acolher os recém-chegados e trabalhar lado a lado com eles, ensinando e aprendendo, ajudando-os a encontrar seu lugar no mercado.

Que Deus nos ajude a superar o orgulho e os preconceitos e correr, juntos a carreira que nos está proposta (Hb 12.1-2).

Para não ficar só no discurso...

Quem está começando agora ou está considerando seguir a carreira de tradutor, pode encontrar dicas interessantes abaixo.

Artigo do Translator's Café para quem está pensando em seguir carreira.

Tradutor Profissional, um excelente blog no qual o tradutor Danilo Nogueira responde perguntas e fala sobre a realidade da profissão no Brasil.

Dez dicas para iniciantes do site Tips for Translators, que traz mais informações.

Guia resumido para iniciantes do site finlandês FILI.

Se você já está inserido no mercado, aproveite para compartilhar suas experiências.
Qual é sua dica para quem está começando agora? O que você faria de outra forma se estivesse em início de carreira? Quais os maiores desafios? Quais as recompensas?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Quem trabalha conosco?

É sempre animador saber que sou apenas uma dentre várias pessoas empenhadas em levar as idéias do autor ao leitor. Neste segundo texto sobre quem trabalha conosco (ver 1 de outubro, 2007: Miriam de Assis - O assistente editorial), Lilian Melo Alves, supervisora de produção da Editora Mundo Cristão, descreve suas responsabilidades e sua relação com os tradutores. Muito obrigada, Lilian, por aceitar prontamente o convite para escrever estas linhas. Graças ao seu trabalho dedicado, o texto do Word na tela do meu computador se transforma em objeto palpável: veículo de idéias, instrumento de reflexão e estímulo para crescimento.

O supervisor de produção

Quando assisti pela primeira vez à apresentação de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), tive certeza de que Produção Editorial era a área profissional que me faria feliz. Vi que no curso eu teria a possibilidade de unir as duas coisas que mais me interessavam: texto e design.

no primeiro ano da faculdade, uma amiga comentou comigo seu desejo de trabalhar em editora de livros, e eu lhe disse que revista ou jornal era meu objetivo, por acreditar ser mais dinâmico. Confesso que me enganei completamente!

exerci alguns cargos em editora. Fui estagiária da área editorial e de produção gráfica, assistente editorial e hoje trabalho especificamente com produção. Uma das coisas que mais me entusiasmam é saber que meu trabalho é uma pequena parte de todo o processo responsável por levar o livro às mãos do leitor.

Algumas das minhas funções hoje consistem em trabalhar diretamente com o designer de capa, orçar e negociar com gráficas, criar projetos gráficos e enviá-los aos diagramadores, aprovar provas heliográficas e provas de cores das capas. Sempre que necessário, ajudo minha editora no planejamento, envio e recebimento dos trabalhos de textocomo tradução, preparação e revisão.

Planejar, organizar e cumprir um cronograma editorial exige que todos os colaboradores tenham em mente alguns objetivos imprescindíveis: cumprimento da visão e missão da empresa, qualidade do produto, prazo adequado, atendimento ao leitor e, principalmente, amor pelo que faz.

Uma vez decidida a publicação do livro, meu gerente, minha editora e eu nos reunimos para decidir quais colaboradores serão envolvidos no projeto. No momento da escolha do tradutor sempre temos de levar em consideração o “estilo” do livro e o “estilo” do tradutor, porque esse casamento se torna perfeito quando o tradutor consegue entender, sentir e reproduzir, em nossa língua, a mensagem do autor.

Considero o trabalho do tradutor um dos mais importantes no processo, pois, além de ser “o ponto de partidaapós a aprovação da obra, é o tradutor que faz a ponte entre a realidade do autor e a realidade do leitor.

Meu contato com os tradutores é quase sempre via e-mail ou telefone (é uma pena conhecer poucos pessoalmente!), mas procuro estar sempre disponível para ouvir suas dúvidas e/ou sugestões e resolver em conjunto. Esse contato sempre nos proporciona mais proximidade, apesar da distância. Não raro, as decisões no processo de tradução precisam ser discutidas com muito cuidado, a fim de manter fidelidade ao original e à língua de transição.

O zelo dos profissionais que lidam com o texto é tão significativo para mim como os processos de produção gráfica do livro. A cada publicação o sonho se renova. O mais gratificante, no entanto, é o testemunho dos leitores, que nos chega pelo correio ou por e-mail, relatando como a leitura de um de nossos livros mudou sua vida, traduzindo-se num presente de Deus.

Existe, ainda, outra coisa que me deixa muito feliz, e é quando, ao terminar seu trabalho, o tradutor compartilha conosco seu envolvimento emocional e espiritual com o texto. São momentos como esse que ratificam meu amor pelo faço. Espero que vocês sintam o mesmo!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Por falar em Tatiana Belinky...

No dia 12/01/08 comentei sobre a tradução da obra Almas Mortas de Gogol por Tatiana Belinky. Quem quiser saber mais sobre a vida e o trabalho da tradutora e escritora tem uma nova fonte de informação, conforme notícia do PublishNews - 15/01/2008:

Coleção Aplauso traz biografia de Tatiana Belinky Tatiana Belinky aprendeu a ler por volta dos quatro anos, em casa, com os bloquinhos de letras que o pai lhe presenteou dizendo que ela "podia fazer ponte, casinha, o que quisesse com eles". Ela não fez ponte ou casinha, mas começou a formar sílabas e a pronunciá-las. Foi assim que, antes dos cinco anos, já começava a se embrenhar pelo mundo das letras. Nunca mais parou. Durante a infância Tatiana aprendeu a falar letão, russo, alemão e iídiche. Mais adiante, ainda aprenderia inglês e português, mas considera o russo como a sua verdadeira língua. Tudo isso e muito mais está no livro Tatiana Belinky... E quem quiser que conte outra (IMESP, 240 pp., R$ 15), de Sérgio Roveri, publicado na Série perfil, da coleção Aplauso.

O livro pode ser adquirido pelo site da IMESP (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo).

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Ainda sobre os russos


Abaixo, alguns trechos da reportagem de Alexandra Moraes e Ernane Guimarães Neto publicada no jornal Folha de São Paulo em 13/01/2008 sobre a valorização das traduções diretas.

Novo chamariz, tradução direta deixa de ser luxo e vira exigência

Se os textos de Dostoiévski, Tolstói, Gógol e Tchékhov, entre outros, não eram totalmente desconhecidos dos leitores brasileiros, sua tradução direta do idioma original aportou por aqui como novidade tornada obrigatória há quase uma década. Tanto quanto o autor, a frase "traduzido diretamente do russo" virou chamariz.

"A quantidade e a velocidade atuais de publicação dos russos realmente não são inéditas", explica o professor da USP Bruno Gomide, pesquisador da recepção da literatura russa no Brasil, citando a "febre de eslavismo" dos anos 30 e a coleção de Dostoiévski da editora José Olympio nos 40.

"O que há de inédito é o fato de a tradução a partir do original russo ter se tornado uma exigência", diz. "Ademais, exige-se que sejam feitas com qualidade. Já nos anos 30 havia edições feitas a partir do russo, mas em geral eram apressadas, ou então excessivamente atreladas a interesses de grupos políticos."

[...]

Entre os principais tradutores dos clássicos estão Boris Schnaiderman, Paulo Bezerra e Rubens Figueiredo --que, desde 2003, lançou pela Cosac Naify textos de Tchékhov, Tolstói, Turguêniev e Górki. "Ele tem uma "quase bolsa" de tradução", diz o editor Paulo Werneck.

A tradução direta não é luxo: mostra contornos que ficariam embaçados em versões indiretas. Gomide diz que um dos mais beneficiados por elas é Dostoiévski, "o mais comentado dos ficcionistas russos na crítica brasileira e o mais cercado por lugares-comuns."

[...]

"Os russos, pela primeira vez em muito tempo, aparecem desvinculados da questão política", aponta Gomide. "A volúpia de se conhecer a "Rússia subterrânea", o "enigma soviético" ou qualquer tipo de "cor local" por meio da literatura está completamente ausente."


Saiba mais sobre:
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Paulo Bezerra
Rubens Figueiredo

sábado, 12 de janeiro de 2008

Almas mortas e tradutores-fantasmas


Passei a maior parte da semana entre o Natal e o Ano Novo entre quatro paredes dedicando-me a uma atividade inusitada para profissionais da área editorial: a leitura. Enquanto o sol brilhava sobre, ou melhor, estorricava os pobres turistas no litoral paranaense, descobri Nikolai Gogol, e sua obra-prima Almas Mortas.

A tradução de Tatiana Belinky parece ter captado bem as cores intensas com as quais Gogol pinta um retrato detalhado da Rússia agrária, onde o sucesso dos grandes proprietários de terra era medido pelo número de “almas”, isto é, de servos que possuíam. As descrições vão além das paisagens e costumes e dissecam a natureza humana com seus belos sonhos e virtudes, ambições ilícitas e hipocrisias.

As obras de Gogol são consideradas textos complexos que muitas vezes desafiam interpretações convencionais. Para quem não precisa se preocupar em tecer críticas literárias nem definir se Gogol foi o pai do modernismo russo ou apenas um escritor com uma vida extremamente atribulada, Almas Mortas é uma excelente maneira de fazer uma viagem por lugares exteriores e interiores nunca antes visitados.

Enquanto eu me refestelava com a leitura desse volume da coleção Obras-Primas da Editora Nova Cultural, mal sabia o que se passava no “mundo real”.
Em matérias publicadas em vários jornais e revistas no final de dezembro, foi revelado que em 60% dos títulos publicados nessa coleção os nomes dos tradutores originais foram substituídos por nomes de fantasia ou nomes verdadeiros de outras pessoas. Em reação, tradutores estão se unindo num abaixo-assinado para que a Nova Cultural dê os devidos créditos de tradução e se retrate publicamente.

Uma postagem de Fábio M. Said na Liga da Tradução fornece os principais detalhes desse cipoal. Vale a pena ler com atenção, também, o comentário de Adail Sobral acerca da postagem em questão.