Removidas as bolinhas de naftalina, dada a ordem de despejo para as traças e desgrudadas as teias de aranha, eis uma versão semi-reciclada de um texto que escrevi alguns anos atrás para comemorar o dia 2 de fevereiro.
O que esse dia tem de especial?
Evangelho de Lucas, capítulo 2: Era um bebê como qualquer outro, ainda meio com cara de joelho. Quem o pegasse no colo não escaparia da curiosidade que enchia os olhinhos muito escuros e, com certeza, sentiria aquele cheiro de Danoninho que todo bebê parece ter.
Acompanhada do marido, a mãe do menino foi ao templo levar uma oferta de purificação, conforme a Lei de Moisés exigia. Os dois também aproveitaram a ocasião para apresentar a criança, pois era o primeiro filho e devia ser dedicado ao Senhor (Levítico 12, Números 3 e Deuteronômio 15.19).
Quando os pais do menino estavam oferecendo o sacrifício pela purificação, chegou um sujeito chamado Simeão. Para espanto geral, Simeão pegou o bebê no colo e disse:
“Senhor, agora eu posso morrer em paz! Pois eu o vi como o Senhor me prometeu que veria. Eu vi o Salvador que o Senhor prometeu dar ao mundo”.
Uma senhora muito idosa chamada Ana se aproximou na hora que Simeão estava falando e também começou a dar graças a Deus e dizer para todos que o Messias havia chegado.
Pois é. Lá estava ele, o Messias de fraldas.
Mas como foi que Simeão e Ana olharam para aquele pedacinho de gente – sem auréola na cabeça, sem raios de luz ao seu redor, sem coral de anjos nem efeitos especiais – e viram o Filho de Deus, o Cristo que veio ao mundo para nos salvar?
Tenho a impressão que a resposta está na descrição dessas duas pessoas.
De acordo com Lucas 2:
1) Simeão era devoto. Devoção quer dizer deixar uma porção de coisas de lado e voltar toda nossa energia e atenção para o objeto da devoção. É ter as prioridades em ordem.
2) Era cheio do Espírito Santo. Recebemos o Espírito Santo quando aceitamos Jesus como Salvador. Ponto e pronto. Mas, sem a devoção, o Espírito Santo fica soterrado debaixo de outras coisas mais “importantes”. Simeão dava espaço para o Espírito ficar bem confortável dentro dele e fazer o seu trabalho.
3) Vivia esperando o Messias. O Antigo Testamento tem uma porção de promessas sobre o Messias. Com a ajuda do Espírito, Simeão acreditava no que estava escrito na Palavra de Deus e vivia em função disso.
4) Ana adorava a Deus com orações e, muitas vezes, jejuava. Ela se admirava com o caráter de Deus e declarava seu amor profundo por ele. O jejum era sua forma de dizer para Deus que ele era mais essencial para a vida dela do que o próprio alimento.
5) Fazia plantão 24 horas por dia, 7 dias por semana no templo. Naquela época, o templo era considerado o lugar da presença de Deus. Assim, em outras palavras, Ana passava seus dias e noites na companhia de Deus. Hoje, nós que aceitamos a Cristo como Salvador somos o templo do Espírito de Deus! Quer a gente se dê conta ou não, ele está conosco o tempo todo.
Esses dois eram amigos chegados de Deus e como Jesus era “a cara do Pai”, não tiveram dificuldade em reconhecê-lo. Por isso, receberam o privilégio enorme de ver e segurar o menino e dar graças a Deus por ele.
E o que isso tudo tem a ver com o dia 2 de fevereiro?
Em algumas tradições cristãs esse dia marca o final do tempo de Epifania.
Deus se revelou ao mundo em Jesus no tempo de Maria, José, dos apóstolos, etc e tal (Epifania) e continua se revelando a nós à medida que nos relacionamos com ele. Às vezes, porém, essa revelação pode parecer insignificante, feito um bebezinho. Ana e Simeão mostram como enxergar além das aparências. Talvez, você não concorde que o Salvador tinha cheiro de Danoninho, mas uma coisa é certa: ele sabia que não seria fácil deixarmos de lado nossas Grandes Ambições, nossos Trabalhos Importantes e Enormes Preocupações e conseguir vê-lo nas coisas pequenas, humildes, despretensiosas. Por isso, pouco antes de sua morte, orou ao Pai e pediu por você e por mim:
“Eles não fazem parte deste mundo mais do que Eu. Que o Senhor faça todos puros e santos, ensinando-lhes as suas palavras de verdade”.
“Eu revelei o Senhor a eles, e continuarei a revelar, para que o poderoso amor que o Senhor tem por mim possa estar neles, e Eu neles”. (João 17.17, 26)
Em 2008, mal acabamos de lembrar a revelação de Deus em Jesus e já é hora de começarmos a refletir sobre a Páscoa (a Quaresma começa na próxima quarta-feira).
Apesar de não ser católica romana, creio que este é um período especial e gostaria de desafiar você a escolher um dos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas ou João) para ler e meditar sobre o que aconteceu entre o encontro do bebê Jesus com Ana e Simeão e o reencontro do Senhor ressurreto com o Pai no céu depois de terminar seu trabalho aqui na terra.
Que este possa ser um tempo de descobertas e aprendizado sobre nosso Salvador.