terça-feira, 30 de outubro de 2007

Tradutores fazem mágica?



Informação "legitimamente furtada" do blog editorial da Mundo Cristão: O site da revista Época traz uma entrevista com Lia Wyler, tradutora da série Harry Potter no Brasil. Destaques:

Época - Qual é a grande questão que o tradutor enfrenta hoje, no país?
Lia -
A tradução, como qualquer profissão liberal, é segmentada e cada segmento tem especificidades que não permitem afirmar que exista apenas uma grande questão. Explicando melhor: na área de filmes há tradutores para legendas, narração e dublagem de filmes, vídeos e DVDs, que por sua vez são usados em cinema, televisão, escola e empresa, cada uma dessas finalidades exigindo diferentes habilitações do profissional. Qual é a grande questão para cada um desses grupos de tradutores? Não sei, mas se existe uma grande questão, e não será apenas para os tradutores, mas para todos os brasileiros, é a deficiência do ensino do português em todos os níveis.

[...]

Época - É possível esboçar a proporção de talento envolvida num trabalho de tradução literária?
Lia -
Até hoje ninguém tentou porque não há uma tradução única e genial para um texto estrangeiro. Há variações e coincidências nas traduções feitas por diferentes pessoas que agradam mais a uns e desagradam a outros e isto não significa que cada tradução não apresente rasgos de genialidade que recriem os do autor estrangeiro.

Época - Como tradutora de autores como John Updike e Henry Miller, fica decepcionada por ser reconhecida principalmente por Harry Potter?
Lia -
Não. Fico decepcionada com a incompreensão que cerca o ato de traduzir, a falta de percepção do quanto de inventividade empregamos para evitar a repetição de palavras, o exercício que é a reestruturação de frases visando a maior legibilidade do texto e mil outros recursos de que se lança mão, por vezes instintivamente dados os curtos prazos que temos para refletir. Considero o Harry Potter, com a sua multiplicidade de registros - narração, diálogos entre iguais e superiores e inferiores hierárquicos, artigos de jornal, avisos escolares, livros-texto, textos medievais, contos folclóricos, aulas, cartas entre garotos e cartas ministeriais, jogos de palavras - o maior desafio que já enfrentei depois de A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe.

domingo, 28 de outubro de 2007

Aos ergasiomaníacos de plantão

De acordo com o dicionário Aurélio, um ergasiomaníaco é alguém que sofre do desejo patológico de trabalhar permanentemente. O termo aparece no Houaiss como um cultismo e corresponde ao substantivo workaholic, definido ali como “trabalhador compulsivo”. Para quem pensa que ser workaholic é chique, sugiro uma leitura rápida (para não atrapalhar o trabalho) de alguns trechos transcritos abaixo, extraídos de um artigo sobre o assunto publicado no New York Times.
Apesar de não ser novidade, o fenômeno continua em pauta em inúmeras revistas e livros de diversas áreas.
É possível que isto se deva, em parte, ao fato de nossa sociedade valorizar o workaholic e outros compulsivos borderline – aqueles que se destacam de forma positiva por seu comportamento excessivo, mas não chegam a entrar em colapso. Um tradutor com essa tendência, por exemplo, pode ser extremamente bem-sucedido: atende a vários clientes/editores de uma vez, cumpre prazos e nunca diz “não”. Como não tira férias e trabalha fins-de-semana e feriados, também se mostra mais produtivo do que outros colegas (pelo menos por algum tempo). Se alguém pergunta ao dito cujo como estão as coisas, ele responde satisfeito: “Atolado de serviço, graças a Deus”. Tudo corre às mil maravilhas em sua linda rotina de perfeccionismo, pânico, pressão e medo de perder o controle. Mas a que preço ele obtém o seu sucesso?
Não é preciso ser um workaholic inveterado para deixar de lado as coisas importantes da vida — o relacionamento com Deus, família e amigos, por exemplo — em troca das coisas urgentes do dia-a-dia. Ao mesmo tempo, temos compromissos e responsabilidades que não podem ser ignorados. Se não suplicarmos a Deus diariamente por sabedoria e reconhecermos que nossos dias na verdade não nos pertencem (mais sobre isso em outro post), podemos acabar sacrificando coisas pequenas, porém preciosas. Assim, façamos nossas as palavras do salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias e usar nosso pouco tempo para conseguirmos a tua sabedoria” (Sl 90.12, BV).



When Hard Work Becomes Overwork
By PHYLLIS KORKKI
The New York Times, Published: October 21, 2007
Q. You put in 12 to 14 hours a day at the office and often work on weekends and at home. Some people have joked that you are a “workaholic,” and a few people close to you have even said that it’s a serious problem. Is it? How can you tell?
A. Chances are you’re a workaholic if you feel compelled to work for the sake of working, and you feel panic, anxiety or a sense of loss when you aren’t working.
The workaholic is “addicted to incessant activity” […] The behavior continues even if the worker becomes aware that it is personally harmful — even harmful to the quality of the work […]
Q. Are certain types of people more prone to workaholism than others?
A. Most workaholics are either perfectionists, have a need for control or a combination of both […]
Q. What’s the difference between workaholism and working very hard?
A. The nonworkaholic knows how to set boundaries. […] “Many of us at various times in our life have to work very long hours, but we have the internal regulator that says, ‘This has gone on long enough.’” The workaholic “feels bereft without that constant activity,” she said.
Q. What are some telltale signs of workaholism?
A. If several people close to you say they feel neglected by you because of your work, you should certainly take their concerns seriously […].
And if you regularly conceal from family members that you are working — say, sneaking into the next room to peek at your BlackBerry — you may have a problem […]
Q. Do workaholics accomplish more than people who work fewer hours?
A. Often, they don’t. For one thing, they may become so fixated on tiny details that they find it hard to move on to the next task […] “They’re not looking for ways to be more efficient; they’re just looking for ways to always have more work to do.”
Most companies think that they are benefiting from a workaholic’s long hours, even if it is at the worker’s expense, Professor Porter said. In fact, she said, workaholism can harm the company as well as the worker.
Q. How can workaholism harm a company?
A. In addition to discouraging efficiency, it can put enormous stress on co-workers. If the workaholic is a manager, he or she may expect long hours from subordinates, may force them to try to meet impossible standards, then rush in to save the day when the work is deemed substandard, Professor Porter said.
The person may look like a hero, coming in to solve crisis after crisis, when in fact the crises could have been avoided. Sometimes, the workaholic may have unwittingly created the problems to provide the endless thrill of more work.
Q. What steps can a person take to stop working too hard?
A. The behavior can be an extraordinarily hard to change, experts agree. “People will go through withdrawal,” Professor Porter said.
That is why professional help, or the active support of family members and friends, may be needed to turn the tide.
In addition, an employer could perceive the workaholic’s reduced work hours and curtailed accessibility as a drop in performance, Professor Porter said. In that case, it may be necessary to request a new assignment or a transfer within the company, she said.

QUER SABER SE VOCÊ É UM WORKAHOLIC? Faça o teste da revista Forbes (em inglês).

domingo, 21 de outubro de 2007

Glossariando

Conforme prometido no post do dia 11 de setembro de 2007, eis alguns comentários sobre o livro VocabuLando de Isa Mara Lando e a formação de um glossário pessoal.

Comprei o VocabuLando em 2006, quando foi lançada a edição ampliada e atualizada. O vocabulário é bastante útil, especialmente pelo grande número de nuanças e exemplos em cada termo. Ele e o Guia Prático de Tradução Inglesa formam uma boa dupla e se complementam em vários aspectos, pois, enquanto o Guia é dedicado especialmente aos falsos cognatos, para os quais apresenta excelentes explicações, o VocabuLando traz várias entradas com acepções atuais como worst case cenario, empowered e awesome e expressões idiomáticas.

Porém, o que mais me chamou a atenção ao ler a apresentação do vocabulário foi o relato da autora sobre como o livro tomou forma:

Tudo começou com um velho caderno de capa dura [...] senti a necessidade de elaborar meu próprio glossário para registrar meus achados e não repetir as pesquisas [...]

E, depois de algumas considerações acerca da obra, ela prossegue relatando:

Em 1988 [dois anos depois de iniciar o tal glossário] o velho caderno já não tinha mais espaço e comecei a transcrever meus achados no computador. Com isso as coisas se organizaram melhor. Adquiri o costume de anotar e prestar atenção em tudo que tivesse a ver com tradução. As boas soluções iam direto para o meu vocabulário [...] A partir de 1995 os exemplos foram ficando mais numerosos e mais completos, pescados diariamente nos mares da internet.

Gostei da idéia e resolvi começar o meu próprio glossário. Ao invés de um caderno, abri um arquivo no Word el estou compilando uma lista de palavras e expressões para as quais as soluções apresentadas nos dicionários inglês-português nem sempre são satisfatórias.

Para facilitar consultas futuras, tenho procurado acrescentar exemplos do original em inglês, seguidos de possíveis soluções e uma observação acerca da fonte, caso sejam provenientes de algum livro de consulta como o Guia Prático de Tradução Inglesa ou o VocabuLando. Algumas soluções também vêm de textos de colegas, enquanto outras são inspiradas por exemplos negativos que me levam a buscar uma alternativa mais adequada. Afinal, apenas criticar as escolhas alheias pode ser fácil e fazer bem para o ego, mas não contribuirá em nada para melhorar a qualidade dos meus textos.

A princípio, imaginei que a construção desse glossário atrapalharia o ritmo de trabalho, pois exigiria interrupções relativamente longas. Na prática, porém, apesar das consultas serem mais demoradas da primeira vez, quando me deparo com o termo novamente algumas semanas ou meses depois, algumas soluções já se encontram registradas no glossário e não preciso pesquisar outra vez. Como sempre, tem valido a pena vencer a pressa e a preguiça.

Meu discurso “I have a dream” é consideravelmente menos ambicioso do que o do Rev. Martin Luther King: Vejo tradutores cristãos trabalhando juntos para formar um glossário com palavras e expressões peculiares a textos sobre vida cristã, espiritualidade, teologia e história da igreja. Vejo profissionais se esforçando em conjunto para atender à necessidade premente de elevar o nível dos serviços prestados às editoras cristãs.

Uma vez que só fazer discurso não resolve o problema de ninguém, se Deus quiser, em 2008 pretendo disponibilizar o meu glossário aqui (em etapas).

Se você é tradutor, editor, revisor ou outro “or” e tem o seu glossário (definido aqui, como uma lista de duas ou mais palavras), considere-se oficialmente convidado / desafiado a compartilhá-lo em nosso Café.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Quê tipo de dez lise horto gráfico o corretor não em contra?


Além de ser um exercício de homofonia, o poema abaixo mostra o perigo de se confiar excessivamente no corretor de ortografia e gramática do processador de texto.

Procuro usar o corretor uma vez antes de revisar o texto e outra vez depois de terminar todas as revisões (just in case...). Mantenho ligada a opção para mostrar erros de grafia e gramática durante a digitação, permitindo que eu corrija ou desconsidere enquanto escrevo, mas desligo a substituição automática por palavras do dicionário do Word (nem sempre muito úteis).

Também procuro tomar cuidado ao colocar palavras na opção de autocorreção.

Ainda assim, já passaram algumas “pérolas” do tipo:

“O Evangelho de Luvas” ou “O Evangelho de Lulas” ao invés de “O Evangelho de Lucas”.

“O rei Salmão” ou “O rei Salsão” ao invés de “O rei Salomão”.

“O ovo de Israel” ou “O polvo de Israel” ao invés de “O povo de Israel”.


A propósito, se você encontrou algum erro no texto acima, por favor avise...


Qual a sua dica para usar o corretor ortográfico?
Algum faux pas favorito?


The Spell-Checker Poem

Candidate for a Pullet Surprise
by Mark Eckman and Jerrold H. Zar

I have a spelling checker,
It came with my PC.
It plane lee marks four my revue
Miss steaks aye can knot sea.

Eye ran this poem threw it,
Your sure reel glad two no.
Its vary polished in it's weigh.
My checker tolled me sew.

A checker is a bless sing,
It freeze yew lodes of thyme.
It helps me right awl stiles two reed,
And aides me when eye rime.

Each frays come posed up on my screen
Eye trussed too bee a joule.
The checker pours o'er every word
To cheque sum spelling rule.

Bee fore a veiling checker's
Hour spelling mite decline,
And if we're lacks oar have a laps,
We wood bee maid too wine.

Butt now bee cause my spelling
Is checked with such grate flare,
Their are know fault's with in my cite,
Of nun eye am a wear.

Now spelling does knot phase me,
It does knot bring a tier.
My pay purrs awl due glad den
With wrapped word's fare as hear.

To rite with care is quite a feet
Of witch won should bee proud,
And wee mussed dew the best wee can,
Sew flaw's are knot aloud.

Sow ewe can sea why aye dew prays
Such soft wear four pea seas,
And why eye brake in two averse
Buy righting want too pleas.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Miscelânea

Para começar bem a semana, duas sugestões:

Encontrei esta citação no espirituoso blog Enigmatic Mermaid. Onde diz “books”, leia-se “translations”...
"Books and dishes have this common fate; there was never any one of either of them, that pleased all palates.
And in truth, it is a thing as little to be wished for, as expected, for a universal applause is at least two thirds of a scandal".
Sir Roger L'Estrange, 1673

Não deixe de conferir também o tira-teimas, um blog sobre a origem de expressões idiomáticas na língua portuguesa, com uma boa lista de links ("Utilidades").

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Me, Myself and My Text

Abaixo, um resumo e comentários sobre o capítulo “Revision and self-criticism” do curso on-line de tradução Logos.

A revisão é uma etapa extremamente importante do nosso trabalho. No caso do tradutor que trabalha para editoras, o texto ainda será revisado pelo menos duas vezes. Mas, como discutimos num post anterior (Um original problemático), isto não significa que o texto pode ser enviado para a editora sem uma revisão cuidadosa do tradutor. A meu ver, a responsabilidade maior pela qualidade do texto é do tradutor, e não do revisor.

Porém, revisar nosso próprio trabalho não é uma tarefa tão simples quanto parece. Temos a tendência natural de sempre considerar satisfatório o resultado final de nossos esforços. Certos mecanismos mentais nos dão a impressão de que nosso texto faz sentido, pelo simples fato de ter sido escrito por nós. Quando esses mecanismos falham, corremos o risco de viver numa condição permanente de incerteza e frustração acerca da inadequação de nosso desempenho. É evidente que tais mecanismos podem ter repercussões negativas. Se forem excessivamente desenvolvidos, o indivíduo se sentirá seguro demais, e não terá um nível adequado de autocrítica – um defeito grave num tradutor.

Quando um tradutor termina o primeiro rascunho e começa a revisá-lo, o que tem diante de si é, em parte, um texto novo, pois, apesar de ser fruto do seu trabalho, foi gerado parcialmente por um processo habitual e por um movimento alternado que oscila entre a leitura, a tradução em estado alerta e a tradução em “piloto automático”. Uma vez que se trata de uma tarefa árdua, os mecanismos mentais interferem de modo a proporcionar uma “compensação” ao indivíduo: o trabalho foi difícil, mas gerou um produto de boa qualidade. Assim, a autocrítica e a revisão do próprio texto são processos extremamente complicados. É preciso ativar a sondagem crítica de um produto que é seu e, portanto, por definição mental, que é bom.

A capacidade do tradutor de se desvincular do próprio texto é inversamente proporcional ao seu investimento geral e afetivo nesse texto. Quanto mais tempo e esforço foram dedicados a um projeto, mas difícil será ver seus defeitos. Por outro lado, um texto extremamente maçante pode levar até o tradutor mais atento a baixar a guarda. Esta realidade nos leva à seguinte pergunta acerca da revisão do próprio texto: Existem técnicas para evitar os mecanismos mentais que nos fazem defender as nossas escolhas na tradução do texto?

Acima de tudo, o tradutor deve ser esforçar ao máximo para ler o seu texto como se tivesse sido traduzido por outra pessoa. Para isso, dentro das suas possibilidades, precisa se distanciar do texto no tempo e no espaço.

1. Quanto à distância temporal, o período entre a tradução e a revisão deve ser o mais longo possível. No meu esquema de trabalho, procuro intercalar as tarefas de tradução e revisão, de preferência, de livros diferentes. Termino a tradução e coloco o texto “na gaveta”. Entrementes, traduzo outro material. Então, volto ao primeiro trabalho para revisá-lo e - surprise! – encontro um bocado de coisas que precisam ser melhoradas. Claro que nem sempre é possível proceder dessa forma, pois muitos projetos são “para ontem”. Ainda assim, pelo menos dois ou três dias de intervalo fazem uma grande diferença.

2. Quanto à distância espacial, a desvinculação entre o tradutor e o texto se dá, em ordem crescente:

a) lendo o próprio texto na tela do computador (fortemente desaconselhável);

b) ler o próprio texto impresso (não recomendável);

c) ler o próprio texto sozinho em voz alta;

d) ler o próprio texto em voz alta para outra pessoa (fortemente recomendável);

e) ouvir alguém lendo o texto (fortemente recomendável);

f) ouvir alguém lendo o texto diante de um público mais amplo (o ideal, mas impraticável).

Confesso que estou anos-luz do ideal: normalmente reviso pelo método a); às vezes, pelo método b). As outras sugestões são inviáveis para o meu volume de trabalho.

No momento, estou testando outra técnica para aumentar o nível de atenção e autocrítica na hora da revisão. Depois de revisar algumas páginas, escolho um artigo da internet ou um livro com uma tradução problemática (infelizmente, ambos são fáceis de encontrar) e leio por alguns minutos, procurando detectar e corrigir os erros ou melhorar os trechos excessivamente literais. Em seguida, volto ao meu material, esforçando-me para manter o mesmo espírito crítico. Observei que esse expediente ajuda a encontrar frases pouco elegantes, “queísmos”, repetições e “outros bichos” no meu próprio texto.

At last, but not the least, busquemos a Deus para pedir três “graças”:

1. Os recursos necessários para superar as barreiras mentais que nos impedem de ver as imperfeições de nosso próprio trabalho.

2. Humildade para aprender com nossos erros e com os acertos de colegas.

3. O equilíbrio essencial entre autoconfiança e autocrítica, para não nos tornarmos nem inseguros e indecisos, nem inflexíveis e arrogantes.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Quem trabalha conosco?

Alguém me disse que traduzir é um trabalho solitário. Sem dúvida, o tradutor que presta serviços para editoras passa bastante tempo sozinho, mas, ainda assim, faz parte de uma equipe de produção. Talvez não tenha contato pessoal com os outros membros dessa equipe, mas eles estão lá, se empenhando a cada dia em inúmeras tarefas de grande importância - afinal, nossos arquivos do Word não se transformam em livros publicados num passe de mágica. Além do editor, uma das pessoas com as quais o tradutor costuma ter contato direto é o assistente editorial. A Miriam de Assis, minha colega na Editora Mundo Cristão concordou em descrever para nós o trabalho desse profissional e sua relação com o tradutor. Meus sinceros agradecimentos à Miriam por nos ajudar a entender que, mesmo trabalhando sozinhos, não somos solitários. Se nosso nome aparece no expediente (e o pagamento aparece em nossa conta bancária...), é porque vários outros profissionais fizeram a parte deles.

O assistente editorial

Eu costumo dizer que meu trabalho é a parte burocrática do departamento editorial. Sou responsável pela emissão de contratos e distribuição de documentos que passam pelo departamento. Minha rotina de trabalho consiste em fazer a programação dos pagamentos dos prestadores de serviços que colaboraram na elaboração do livro. Razão esta que me faz ter muito contato com tradutor, revisor, diagramador e capista. Entre algumas de minhas tarefas de trabalho estão: Solicitação de ficha catalográfica do livro e ISBN. Quando faço esses pedidos “burocráticos” tenho a preocupação de mencionar corretamente o nome do tradutor para que ele obtenha o crédito que lhe é por direito.

Eu não sou responsável pela escolha do tradutor, mas sou responsável por enviar a obra a ser traduzida e acompanhar o prazo combinado para tradução. Para mim, o papel do tradutor é tão importante, pois expressa com profundidade o que o autor escreveu. O tradutor transmite todo o pensamento e anseio do autor, ele é o causador do efeito produzido no coração e espírito de um leitor, que lê uma obra e se identifica e se desenvolve com a leitura. As atribuições do tradutor são indispensáveis para a qualidade da obra e a paixão com que ele traduz o livro faz o resultado ser promissor.

Meu contato com os tradutores é “virtual”, ou seja, tratamos e resolvemos todas as questões administrativas por e-mail. Mas, mesmo sendo uma relação “distante” me sinto muito próxima por participar dos detalhes para o cumprimento do trabalho. A comunicação é fundamental para a realização do nosso trabalho, e isso promove um elo de amizade e cuidado mútuo.

Para todo o trabalho fluir é essencial que eu tenha uma visão holística de processos, senso apurado de organização e de planejamento de tarefas e engajamento nos objetivos traçados pela equipe, sendo flexível, cordial e exercendo cooperatividade e habilidade relacional. Eu sou a “ponte” entre os colaboradores externos (tradutores) e internos (editor) no que se refere às necessidades e/ou dúvidas surgidas.

O contato que preciso manter com os tradutores gera um vínculo muito significativo para mim, pelo fato de participar de um projeto que é cuidadosamente planejado para ser executado com excelência em todas as etapas, e esse trabalho começa na tradução da obra.

Minha maior satisfação é encaminhar para o tradutor a obra finalizada (o livro impresso) e ler os comentários dos leitores sobre as obras, para mim é gratificante fazer parte deste trabalho, ver estampado no livro os nomes das pessoas que cooperaram com dedicação e empenho para a execução do projeto.