Abaixo, um resumo e comentários sobre o capítulo “Revision and self-criticism” do curso on-line de tradução Logos.
A revisão é uma etapa extremamente importante do nosso trabalho. No caso do tradutor que trabalha para editoras, o texto ainda será revisado pelo menos duas vezes. Mas, como discutimos num post anterior (Um original problemático), isto não significa que o texto pode ser enviado para a editora sem uma revisão cuidadosa do tradutor. A meu ver, a responsabilidade maior pela qualidade do texto é do tradutor, e não do revisor.
Porém, revisar nosso próprio trabalho não é uma tarefa tão simples quanto parece. Temos a tendência natural de sempre considerar satisfatório o resultado final de nossos esforços. Certos mecanismos mentais nos dão a impressão de que nosso texto faz sentido, pelo simples fato de ter sido escrito por nós. Quando esses mecanismos falham, corremos o risco de viver numa condição permanente de incerteza e frustração acerca da inadequação de nosso desempenho. É evidente que tais mecanismos podem ter repercussões negativas. Se forem excessivamente desenvolvidos, o indivíduo se sentirá seguro demais, e não terá um nível adequado de autocrítica – um defeito grave num tradutor.
Quando um tradutor termina o primeiro rascunho e começa a revisá-lo, o que tem diante de si é, em parte, um texto novo, pois, apesar de ser fruto do seu trabalho, foi gerado parcialmente por um processo habitual e por um movimento alternado que oscila entre a leitura, a tradução em estado alerta e a tradução em “piloto automático”. Uma vez que se trata de uma tarefa árdua, os mecanismos mentais interferem de modo a proporcionar uma “compensação” ao indivíduo: o trabalho foi difícil, mas gerou um produto de boa qualidade. Assim, a autocrítica e a revisão do próprio texto são processos extremamente complicados. É preciso ativar a sondagem crítica de um produto que é seu e, portanto, por definição mental, que é bom.
A capacidade do tradutor de se desvincular do próprio texto é inversamente proporcional ao seu investimento geral e afetivo nesse texto. Quanto mais tempo e esforço foram dedicados a um projeto, mas difícil será ver seus defeitos. Por outro lado, um texto extremamente maçante pode levar até o tradutor mais atento a baixar a guarda. Esta realidade nos leva à seguinte pergunta acerca da revisão do próprio texto: Existem técnicas para evitar os mecanismos mentais que nos fazem defender as nossas escolhas na tradução do texto?
Acima de tudo, o tradutor deve ser esforçar ao máximo para ler o seu texto como se tivesse sido traduzido por outra pessoa. Para isso, dentro das suas possibilidades, precisa se distanciar do texto no tempo e no espaço.
1. Quanto à distância temporal, o período entre a tradução e a revisão deve ser o mais longo possível. No meu esquema de trabalho, procuro intercalar as tarefas de tradução e revisão, de preferência, de livros diferentes. Termino a tradução e coloco o texto “na gaveta”. Entrementes, traduzo outro material. Então, volto ao primeiro trabalho para revisá-lo e - surprise! – encontro um bocado de coisas que precisam ser melhoradas. Claro que nem sempre é possível proceder dessa forma, pois muitos projetos são “para ontem”. Ainda assim, pelo menos dois ou três dias de intervalo fazem uma grande diferença.
2. Quanto à distância espacial, a desvinculação entre o tradutor e o texto se dá, em ordem crescente:
a) lendo o próprio texto na tela do computador (fortemente desaconselhável);
b) ler o próprio texto impresso (não recomendável);
c) ler o próprio texto sozinho em voz alta;
d) ler o próprio texto em voz alta para outra pessoa (fortemente recomendável);
e) ouvir alguém lendo o texto (fortemente recomendável);
f) ouvir alguém lendo o texto diante de um público mais amplo (o ideal, mas impraticável).
Confesso que estou anos-luz do ideal: normalmente reviso pelo método a); às vezes, pelo método b). As outras sugestões são inviáveis para o meu volume de trabalho.
No momento, estou testando outra técnica para aumentar o nível de atenção e autocrítica na hora da revisão. Depois de revisar algumas páginas, escolho um artigo da internet ou um livro com uma tradução problemática (infelizmente, ambos são fáceis de encontrar) e leio por alguns minutos, procurando detectar e corrigir os erros ou melhorar os trechos excessivamente literais. Em seguida, volto ao meu material, esforçando-me para manter o mesmo espírito crítico. Observei que esse expediente ajuda a encontrar frases pouco elegantes, “queísmos”, repetições e “outros bichos” no meu próprio texto.
At last, but not the least, busquemos a Deus para pedir três “graças”:
1. Os recursos necessários para superar as barreiras mentais que nos impedem de ver as imperfeições de nosso próprio trabalho.
2. Humildade para aprender com nossos erros e com os acertos de colegas.
3. O equilíbrio essencial entre autoconfiança e autocrítica, para não nos tornarmos nem inseguros e indecisos, nem inflexíveis e arrogantes.
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