quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Colegas em apuros

Li esta notícia ontem. Ela é de dez dias atrás, mas, sem dúvida, nossos colegas tradutores na Nicarágua continuam precisando de orações. Também é uma oportunidade de lembrarmos dos muitos tradutores cristãos ao redor do mundo que trabalham em contextos extremamente difíceis.

A United Bible Societies, da qual a Sociedade Bíblica do Brasil faz parte, é uma organização que se dedica a traduzir e distribuir a Bíblia em várias línguas e dialetos.

LATEST NEWS # 441, September 18, 2007

NICARAGUA — Hurricane Felix, which hit Nicaragua at the beginning of the month, inflicted major damage on the homes of a Bible Society promoter and three translators in Puerto Cabezas, 780 kms from the capital, Managua, and in Waspán.

In the days following the hurricane, Freddy Fonseca, the General Secretary of the Bible Society of Nicaragua, despatched a series of graphic e-mails. […] Bible Society promoter Pastor Edmund Lacayo told Mr Fonseca that his entire house in Puerto Cabezas had been destroyed. Fortunately, his wife, son and two small grandchildren were unharmed.

“When the metal [roofing] sheets began to go up,” he said, “my wife, my son and our two small grandchildren were on our knees, asking God to pity us, saying that we were in his hands. We all had our eyes closed when we felt some arms lift us up and show us where to get out. I opened my eyes and saw that there was nothing around me: there was no roof and the wooden walls of my house had gone… But all the time I trusted in God – that he would protect the lives of my family and me.”

The family was rescued by some Christians and other neighbours and they are now living in a temporary refuge. Fortunately, Mr Lacayo keeps his stock of Bible materials in the cellar of his house where they have remained safe from the ravages of the hurricane.[…]

After the hurricane, he added, in spite of the chaotic state, nearby churches were full of people of all denominations praying, praising God and holding Faith Comes By Hearing listening sessions from loudspeakers which were running on gasoline-powered generators.

He also told Mr Fonseca that there was an urgent demand for Bible and New Testaments. “People are asking for more than just Portions,” he said. “The churches are full to overflowing; we are all in need: lots of pastors lost their Bibles and are asking me for more.”

Meanwhile, elsewhere in Puerto Cabezas, Barnabás Waldan, a Miskito Bible translator, lost part of the roof of his home. Thankfully, his wife and children were unharmed and the damage, severe though it was, didn’t prevent him from opening his house to a prayer group.

[…] “The overwhelming need is for more Scriptures,” he said. “With Edmund [Lacayo], our Promoter, I delivered all those that we had available and people are asking for more. Right now as I am speaking to you, I have 22 people standing in what remains of my house asking for more Portions to read.”[…]

Leia a notícia completa aqui (ver #441).

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Quem mexeu no meu texto?


APRESENTAÇÃO
Quem mexeu no meu texto? apresenta oportunidade única para conhecer as melhores práticas editoriais, proporcionando contato direto com pessoas de destacada atuação no mercado, num momento de profundas transformações tecnológicas e crescentes desafios profissionais.

PÚBLICO-ALVO
Escritores, tradutores, revisores, alunos e outros profissionais interessados na área editorial.

ONDE
Universidade Mackenzie
Rua Piauí, 143 - São Paulo, SP.

QUANDO
10 de novembro, das 9 às 18 horas.

PALESTRANTES
Prof. Almiro Pisetta – USP
Profa. Lenita Rimoli Esteves – USP
Mark Carpenter – Escritor e Editor
Renato Fleischner – Editor
Omar de Souza – Jornalista
Silvia Justino – Editora
Aldo Menezes – Escritor e Editor
Israel Belo – Escritor

PROGRAMA
  • O papel do escritor no contexto editorial
  • A posição do tradutor no processo editorial
  • A importância da normatização textual
  • O argumento persuasivo para escritores
  • Técnicas de pesquisa para tradução
  • Discutindo a gramática: sintaxe, estilo e semântica
  • Fontes de inspiração e direitos autorais
  • A arte de resgatar e redimir o texto
INVESTIMENTO
R$ 60,00 (Inclui: material, coffee break e certificado. Não inclui: estacionamento e almoço.)

Faça sua inscrição. Vagas limitadas.
Mais informações através do fone
(11) 2127.4102.

O QUE É O INSTITUTO MUNDO CRISTÃO
O Instituto Mundo Cristão é um órgão sem fins lucrativos vinculado à Editora Mundo Cristão,
uma das editoras mais tradicionais do país. Foi criado com o objetivo de contribuir para a
formação e o desenvolvimento de profissionais do segmento editorial e de desenvolver projetos próprios, ou em parcerias com outras instituições, visando a incentivar a leitura.

sábado, 22 de setembro de 2007

Valha-me São Jerônimo!

O último dia de setembro é dia de São Jerônimo, o padroeiro dos tradutores. Mas para que serve um padroeiro?

No catolicismo, ele é um santo que intercede junto a Deus por um determinado grupo de pessoas com os quais tem mais afinidade. Há quem considere uma demonstração de humildade e devoção não dirigir suas súplicas diretamente a Deus, mas a um santo — de preferência, o padroeiro associado ao rogo em questão.

Porém, também há quem creia que Cristo, por meio de seu sacrifício na cruz e ressurreição dentre os mortos, concede acesso direto ao Pai, como deixa claro a Epístola aos Hebreus: “Mas Jesus, o Filho de Deus, é o nosso grande Supremo Sacerdote que foi diretamente para o céu, a fim de nos ajudar [...] Portanto, vamos ousadamente até o próprio trono de Deus e permaneçamos lá para recebermos a sua misericórdia e acharmos a sua graça para nos ajudar em nossos tempos de necessidade” (4.14-16).

Nesse caso, de que vale um santo padroeiro? Para quem se dispuser a não jogar fora o bebê com a água do banho, pode valer muito. Um padroeiro não vai nos proteger nem rogar por nós, mas pode servir de exemplo e inspiração em nossa jornada pessoal e profissional.

Em sua vida de fé, Jerônimo teve altos e baixos, mas buscou arduamente colocar seu relacionamento com Deus antes das coisas terrenas.

Em sua vida de trabalho, Jerônimo foi um exemplo de dedicação à pesquisa. Ao receber a incumbência de revisar a Vetus Latina, o conjunto de traduções de textos bíblicos para o latim usado pela igreja da época, Jerônimo se mudou para Jerusalém a fim de aprimorar seu conhecimento do hebraico e entender melhor a cultura e literatura judaica.

Também demonstrou espírito inovador, pois, sempre que possível, ao invés de usar a Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para o grego), a exemplo dos tradutores do seu tempo, foi diretamente aos textos hebraicos, contrariando até estudiosos do calibre de Agostinho que consideravam a Septuaginta inspirada. O resultado de seus esforços foi a Vulgata, a Bíblia em latim na qual se basearam várias outras traduções importantes, como a de John Wycliffe para o inglês (sobre a qual pretendo comentar num post à parte em breve).

A Vulgata também exerceu influência importante no desenvolvimento da língua inglesa. Considere, entre muitos outros, os termos “creation” do latim creatio, “salvation” de salvatio, “rapture” de raptura, “publican” de publicanus e a expressão “be it far from thee” empregada na versão King James (Mt 16.22 – no português, “tem compaixão de ti, Senhor”; lit. “longe de ti, Senhor”) do latim absit.

Como qualquer ser humano imperfeito, Jerônimo cometeu erros tanto na vida pessoal quanto profissional, mas sabia onde encontrar o perdão para os pecados e as forças para colocar em prática o seu próprio conselho: “Good, better, best. Never let it rest. 'Til your good is better and your better is best”.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Um original problemático

O fato de um livro ter sido publicado em outro país — como é o caso da maioria dos originais com os quais trabalho — não garante que seu texto será bem redigido e preciso. Não é raro encontrar erros de grafia e gramática, ambigüidades e inexatidões de vários tipos.

Até que ponto o tradutor pode ou deve “melhorar” o original?

A resposta a esta pergunta vai depender do objetivo de nosso trabalho. Se considerarmos satisfatório simplesmente transpor para a língua alvo o conteúdo do texto original, bastará corrigir os erros de grafia e gramática (p. ex., concordância). Se, porém, desejarmos ter como resultado final um texto coerente e fluente, no qual as idéias do autor são apresentadas de forma clara e precisa, oferecendo dados corretos, o trabalho poderá ser muito maior.

No caso da tradução literária, dependendo do estado do original, pode ser necessário não apenas investigar outras partes da obra na tentativa de esclarecer as ambigüidades, mas também consultar o autor quanto ao significado de determinadas passagens. Em algumas obras, as idéias são compreensíveis, mas se encontram formuladas de maneira confusa e / ou repetitiva. Em situações como essas, costumo perguntar ao editor até que ponto tenho liberdade de fazer mudanças para articular mais claramente os conceitos apresentados. A resposta normalmente é a mesma: desde que se mantenha o sentido do original e o estilo geral da obra, as construções de frases e até de parágrafos podem ser alteradas para produzir um texto mais harmônico.

É necessário considerar, ainda, as imprecisões. Ao traduzir comentários bíblicos ou outros originais com base em textos das Escrituras, é comum encontrar referências bíblicas incorretas. Na maioria das vezes, esse problema pode ser resolvido facilmente usando-se a ferramenta de busca num software ou site que tenha várias versões da Bíblia em inglês e português como a Biblioteca Digital da Bíblia Libronix ou a Online Bible (ver também lista de sites de referência ao lado). Evidentemente, por uma questão de tempo, o tradutor não poderá verificar todas as referências bíblicas (um comentário pode ter dezenas delas numa única página), mas é importante checar pelo menos aquelas cujo texto é citado e ficar atento para os erros claros (p. ex. referências como Gn 113.12).

O tradutor que trabalha com textos bíblicos, históricos e teológicos precisa ficar alerta, ainda, para personagens, datas e lugares. Nessas horas, o conhecimento acumulado ao longo dos anos de trabalho e leitura ajuda a detectar e retificar os erros. O tradutor especializado em determinados assuntos normalmente tem mais facilidade de lidar com esse tipo de problema, pois consegue acumular conhecimento suficiente pelo menos para detectar as inexatidões e saber onde encontrar as informações necessárias para corrigi-las.

Quando o cliente é o autor do texto, é preciso, evidentemente, usar de muito tato ao procurar esclarecer dúvidas e apontar erros. Por outro lado, o trabalho pode ser mais gratificante, pois um bom diálogo com o autor permitirá a produção de um texto final de melhor qualidade.

Por fim, não devemos nos esquecer dos “casos perdidos”, originais tão mal escritos que não teriam como ser traduzidos e que, talvez, faríamos bem em recusar para não colocar em jogo o nosso nome, pois o leitor final poderia atribuir a condição deplorável do texto ao tradutor.

Sem dúvida as estratégias discutidas acima para trabalhar com um texto problemático exigem tempo, do qual nem sempre dispomos devido à necessidade de cumprir prazos. Mas, à medida do possível, creio que é nossa responsabilidade entregar para a revisão um texto “limpo” e com o menor número possível de erros. Talvez o melhor elogio que um tradutor pode receber de um revisor seja: “Revisar seu trabalho é ganhar dinheiro fácil”.

Mas, se o dinheiro do revisor vai ser tão fácil, por que o nosso tem de ser tão suado? Porque nos preocupamos o suficiente — em primeiro lugar, com nossos leitores e, em segundo lugar com nossa reputação — para andar várias milhas a mais. Nenhum tradutor pode desenvolver uma carreira decente deixando todo o trabalho para o revisor. É preciso ter espírito crítico, interagir com editor, com o autor e, se possível, também com o revisor. A meu ver, vale a pena tentar negociar prazos e vencer a preguiça de pesquisar (quem não tem a dita cuja que atire a primeira enciclopédia).

Se desejamos ser tão respeitados em nossa profissão quanto os autores dos originais, precisamos trabalhar, no mínimo, tanto quanto eles... às vezes muitos mais.

Quais estratégias você usa para lidar com textos problemáticos?

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Guia Prático de Tradução Inglesa


No final de semana que passou consegui superar minha sovinice habitual e comprei o aclamado Guia Prático de Tradução Inglesa, de Agenor Soares dos Santos – Edição Revisada, Atualizada e Ampliada (Editora Campus, 2007). O Guia conta com um vocabulário de mais de 3.700 entradas, especialmente falsos cognatos, phrasal verbs e afins. Por enquanto, não me arrependi da compra. Só a Parte 1 com capítulos sobre o vocabulário de origem latina (resumo histórico), o conceito de “falso amigo” (falso cognato), concepções e objetivos do dicionário e (pasmem!) os cognatos na Bíblia, já fez valer a pena. Até agora, só uma queixa: de tão interessantes, as entradas repletas de remissões, referências cruzadas, comentários e exemplos acabaram desviando minha atenção do trabalho ontem! Para os interessados, adquiri o Guia na Livraria Cultura, com um ótimo desconto por ter o Cartão Mais Cultura.

Em breve, um post sobre o Vocabulando de Isa Mara Lando e sugestões para formar sua própria lista de vocábulos.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Traduzir com fé eu vou, que a fé não costuma falhar

“Para traduzir é preciso, em primeiro lugar ter fé – fé na língua portuguesa e nas suas possibilidades de expressão”.

Estas palavras do grande tradutor e poeta brasileiro Haroldo de Campos nos lembram que a boa tradução deve ser feita no contexto da riqueza da língua portuguesa. Precisamos conhecer os tesouros de nosso idioma para poder oferecer aos nossos leitores um texto que transmita o conteúdo original sem sacrificar a naturalidade da forma – um desafio de proporções nada modestas.

Ao considerarmos esse desafio, qual é o papel da fé cristã em nosso esforço diário por um texto fiel e natural? O tradutor cristão tem alguma vantagem? E se ele trabalha com literatura cristã, essa vantagem é maior?

A meu ver, qualquer profissional competente e disposto a pesquisar pode traduzir bem um texto de cunho religioso. Ser cristão não é uma pré-condição para a competência profissional e também não é garantia de competência. No entanto, o tradutor cristão reconhece que em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3). Esses tesouros do conhecimento incluem a inteligência lingüístico-verbal da qual necessitamos para realizar nossas tarefas. Deus criou o ser humano com a habilidade de se comunicar e, ao longo das Escrituras, vemos diversos exemplos de comunicação multilíngüe usada para a glória de Deus (gosto particularmente da história de Daniel e seus amigos na Babilônia).

No entanto, ao buscar o auxílio divino para nosso trabalho, precisamos cuidar para não tentar transformar essa capacitação em uma “vantagem competitiva”. O raciocínio não é: O tradutor que ora mais presta serviços de melhor qualidade e, portanto, recebe mais projetos das editoras.

Antes, o cerne da questão é o relacionamento individual com Deus. Se acreditamos, de fato, que não há distinção entre o âmbito religioso e o secular, todas as nossas atividades estão atreladas ao nosso relacionamento com Deus. Assim, o objetivo maior do cristão quer ele preste serviços para irmãos em Cristo ou não e quer estes serviços envolvam a propagação do evangelho ou não é conhecer e servir a Deus. Conhecer a Deus significa temê-lo e, como “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10), o profissional que cresce no temor do Senhor recebe a sabedoria necessária para buscar maneiras de se tornar competente. Assim, o tradutor cristão não deve considerar os tesouros do conhecimento encontrados em Cristo um mero instrumento de trabalho, mas sim, recebê-los com humildade, como dom gracioso de Deus, decorrente de um relacionamento de compromisso.

Ao andarmos com Cristo a cada dia, procurando viver como ele, o Espírito nos concederá sabedoria e conhecimento, aptidões e dons, forças e capacitação não para “fazer a concorrência comer poeira”, mas para servir a Deus onde ele nos colocou.

Continuaremos cometendo deslizes e enfrentando dificuldades em nosso trabalho, mas saberemos que não estamos traduzindo apenas para agradar editores, fazer nome e garantir nosso ganha-pão. Realizaremos nosso trabalho como parte de um processo abrangente de conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os 6.3) e, como Daniel, poderemos ser usados por Deus, para que outros digam “Certamente, o vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis” (Dn 2.47).