terça-feira, 4 de setembro de 2007

Traduzir com fé eu vou, que a fé não costuma falhar

“Para traduzir é preciso, em primeiro lugar ter fé – fé na língua portuguesa e nas suas possibilidades de expressão”.

Estas palavras do grande tradutor e poeta brasileiro Haroldo de Campos nos lembram que a boa tradução deve ser feita no contexto da riqueza da língua portuguesa. Precisamos conhecer os tesouros de nosso idioma para poder oferecer aos nossos leitores um texto que transmita o conteúdo original sem sacrificar a naturalidade da forma – um desafio de proporções nada modestas.

Ao considerarmos esse desafio, qual é o papel da fé cristã em nosso esforço diário por um texto fiel e natural? O tradutor cristão tem alguma vantagem? E se ele trabalha com literatura cristã, essa vantagem é maior?

A meu ver, qualquer profissional competente e disposto a pesquisar pode traduzir bem um texto de cunho religioso. Ser cristão não é uma pré-condição para a competência profissional e também não é garantia de competência. No entanto, o tradutor cristão reconhece que em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3). Esses tesouros do conhecimento incluem a inteligência lingüístico-verbal da qual necessitamos para realizar nossas tarefas. Deus criou o ser humano com a habilidade de se comunicar e, ao longo das Escrituras, vemos diversos exemplos de comunicação multilíngüe usada para a glória de Deus (gosto particularmente da história de Daniel e seus amigos na Babilônia).

No entanto, ao buscar o auxílio divino para nosso trabalho, precisamos cuidar para não tentar transformar essa capacitação em uma “vantagem competitiva”. O raciocínio não é: O tradutor que ora mais presta serviços de melhor qualidade e, portanto, recebe mais projetos das editoras.

Antes, o cerne da questão é o relacionamento individual com Deus. Se acreditamos, de fato, que não há distinção entre o âmbito religioso e o secular, todas as nossas atividades estão atreladas ao nosso relacionamento com Deus. Assim, o objetivo maior do cristão quer ele preste serviços para irmãos em Cristo ou não e quer estes serviços envolvam a propagação do evangelho ou não é conhecer e servir a Deus. Conhecer a Deus significa temê-lo e, como “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10), o profissional que cresce no temor do Senhor recebe a sabedoria necessária para buscar maneiras de se tornar competente. Assim, o tradutor cristão não deve considerar os tesouros do conhecimento encontrados em Cristo um mero instrumento de trabalho, mas sim, recebê-los com humildade, como dom gracioso de Deus, decorrente de um relacionamento de compromisso.

Ao andarmos com Cristo a cada dia, procurando viver como ele, o Espírito nos concederá sabedoria e conhecimento, aptidões e dons, forças e capacitação não para “fazer a concorrência comer poeira”, mas para servir a Deus onde ele nos colocou.

Continuaremos cometendo deslizes e enfrentando dificuldades em nosso trabalho, mas saberemos que não estamos traduzindo apenas para agradar editores, fazer nome e garantir nosso ganha-pão. Realizaremos nosso trabalho como parte de um processo abrangente de conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os 6.3) e, como Daniel, poderemos ser usados por Deus, para que outros digam “Certamente, o vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis” (Dn 2.47).

Um comentário:

Paula Góes disse...

Oi, Suzanna!

Obrigada para o link pra Liga dos Tradutores. A idéia é unir em um só espaço blogueiros que tenham a tradução e a língua portuguesa em comum. Ainda estamos em fase experimental e não convidei quase ninguém além do Fábio. Mas já que você demonstrou interesse, deixo aqui o convite: gostaria de fazer parte?

Pense e me diga!

Paula

Ah! Vou colocar um link seu em meu blogue pessoal