segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

A videira


Em nossos dias, o sucesso de países, empresas e pessoas é medido por sua produtividade.
Num contexto em que os anseios internos e as necessidades externas nos pressionam a produzir incessantemente, as palavras de Jesus em João 15.5 nos dão a perspectiva correta: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer".
Por mais bem-sucedida que pareça, uma existência separada da verdadeira Fonte de vida é incapaz de dar frutos duradouros.

Em 2008, permaneçamos em Cristo a cada dia, buscando nele tudo que precisamos para ter uma vida repleta de significado e de frutos benéficos para o mundo presente e relevantes para nossa existência eterna.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

CCJ da Câmara aprova lei contra estrangeirismos

Da Agência Estado
Denise Madueño, de Brasília
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou na manhã desta quinta-feira (13 de dezembro) projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que proíbe o uso de estrangeirismos no país.

Pelo projeto, toda palavra ou expressão escrita em língua estrangeira e destinada ao conhecimento público no Brasil virá acompanhada, em letra de igual destaque, do termo ou da expressão correspondente em português.
Isso inclui os meios de comunicação de massa, as mensagens publicitárias e as informações comerciais.
No caso de documentos da administração pública, o uso do português é obrigatório. A punição para os infratores ainda será definida em lei.
O projeto já foi aprovado pelo Senado, e agora falta apenas a votação pelo plenário da Câmara.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Traduzir é uma vocação?

Comecemos pela definição do termo “vocação”:

Houaiss

1. Disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão; pendor, propensão, tendência. / 2. Derivação: por extensão de sentido: qualquer aptidão ou gosto natural; disposição, pendor, talento.

Aurélio

1.Ato de chamar. / 2.Escolha, chamamento, predestinação. / 3.Tendência, disposição, pendor. / 4.P. ext. Talento, aptidão.

O sentido em inglês é um pouco diferente:

American Heritage Dictionary

1. A regular occupation, especially one for which a person is particularly suited or qualified. / 2. An inclination, as if in response to a summons, to undertake a certain kind of work, especially a religious career; a calling.

A julgar por essas definições, parece correto chamar a atividade de alguns tradutores de vocação. Apesar de nem todos possuírem a disposição natural, o talento e o chamamento de cunho religioso, muitos enxergam sua ocupação por esse prisma.

A forma como encaramos o trabalho influencia pequenas e grandes decisões e define o aspecto de nossa rotina. Daí, a importância de refletirmos sobre a questão com uma visão bíblica.

Sem entrar, por ora, em considerações mais profundas sobre “chamamento”, gostaria de ressaltar algumas considerações bastante pertinentes da obra O Cristão e a Cultura (Ed. Cultura Cristã, 2006, 2ª ed., trad. Elizabeth S. C. Gomes) acerca do cristão e sua atividade profissional (negritos meus).

Como uma pessoa moderna pode entender o salmista perdido na impotência do seu lugar no universo? [...] (SL 8.3-6,9) Não é de admirar que João Calvino tenha iniciado suas Institutas dizendo que começar pela contemplação da própria existência, ou da existência de Deus, levava finalmente ao mesmo lugar. Não temos existência independente, mas se tirarmos Deus da nossa visão de mundo (e sabemos que os cristãos também podem fazer isso) ou se o empurrarmos para a área “espiritual”, enquanto nosso trabalho diário continua sendo basicamente “secular”, a maior parte do nosso tempo será gasta naquilo que consideramos ser uma atividade desprovida de significado. É a teologia que dá significado a todas as atividades da existência humana.

Como, nos dias atuais, raramente relacionamos a teologia com a vida (ou seja, não ligamos o vertical com o horizontal), raramente somos confrontados com as reflexões do salmista. Raramente somos cativados pela percepção da nossa pequenez que se transforma na percepção de significado com base na vocação que Deus nos deu como suas criaturas especiais. O salmista não disse, depois de reconhecer a sua relativa insignificância diante da escala cósmica: “Mas afinal de contas, eu sou o diretor-executivo e consegui muito na minha carreira” [...] Sua importância vinha do reconhecimento, não do que havia realizado, mas do fato de que Deus havia lhe dado uma vocação. [...]

Pelo menos em teoria, se alguém tem essa perspectiva vertical e vê o seu trabalho como um serviço a Deus e ao próximo, até mesmo as tarefas mais simples ganham significado. [...] Deus nos dá a graça de ver toda a vida da sua perspectiva, tudo o que fizermos, por mais simples, mais comum, é feito sob os auspícios do nosso mestre divino. [...]

Um dia, um senhor [...] passou por um lugar em que havia uma construção em andamento. Ele perguntou aos trabalhadores: “O que estão fazendo?”. Um disse: “Estou quebrando pedras da pedreira”. Outro respondeu: “Sou responsável por fazer a argamassa que juntará as pedras”. Um terceiro homem, coberto de lama, empurrava um carrinho de mão, e parou apenas um tempo para dizer com prazer e orgulho: “Estou construindo uma catedral”. O que estamos fazendo com nossa vida? Trabalhando para o final de semana ou construindo uma catedral? Os três homens estavam envolvidos na mesma obra, mas somente um tinha uma visão geral da mesma. Longe da perspectiva transcendente (divina, vertical, teológica), vemos apenas os detalhes da rotina diária: eu registro informações de contabilidade, eu limpo a casa, eu julgo os casos no tribunal, eu digito a correspondência [...] e assim por diante. Porém, quando começamos a assinar as composições das nossas músicas do dia-a-dia com o “Soli Dei Gloria” – Só a Deus a glória – como Bach fazia, até mesmo o trabalho mais enfadonho ou corriqueiro torna-se divino.

Se até mesmo a tarefa mais enfadonha ganha nova dimensão ao ser considerada sob a perspectiva divina, o que dizer da ocupação à qual nos dedicamos com prazer? Quer trabalhemos com textos “cristãos” ou “seculares”, dia após dia, somos capacitados por Deus para traduzir para a glória dele. Se nos esquecermos disso, até mesmo o projeto mais gratificante perderá o sentido. Deus continuará a ser glorificado por meio de outros profissionais e outros trabalhos e continuará a suprir todas as nossas necessidades, mas perderemos parte da alegria de exercer nossa vocação.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Oficinas

Oficinas promovidas pela revista Língua Portuguesa em São Paulo:

Revisão de textos: gramática e estilo
07, 14, 21, 28 de janeiro às 19h30

Arquitetura do discurso: da palavra ao texto
12 e 19 de janeiro às 9h

Comunicação eficaz
09, 16, 23 e 30 de janeiro às 19h30

Formação inicial de escritores
15, 16, 21 e 22 de janeiro às 19h30

Informações e inscrições: aqui

Local: Editora Segmento
Endereço: Rua Cunha Gago, 412 - 6 º andar, Pinheiros - São Paulo
Tel: (11) 3039-5696 / 3039-5600
E-mail:
oficinas@revistalingua.com.br

Valores:

Valor Normal: 4x R$ 55,00
Valor promocional para assinantes: 4x R$ 44,00
Valor promocional até dia 20/12: 4x R$ 49,50

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Perfeitamente falhos


Alguns profissionais não têm margem muito ampla para cometer erros. É o caso de cirurgiões, pilotos e editores. Quem escolhe essas ocupações tende a buscar sempre resultados perfeitos.

Um bom tradutor precisa ser perfeccionista? A meu ver, a resposta é afirmativa com uma ressalva: só no trabalho. Easier said than done... mas é fato que surgem dificuldades quando essa característica transborda do âmbito profissional para outras áreas como a vida doméstica, aparência, hobbies e relacionamentos em geral.

É dessa questão que trata o artigo Unhappy? Self-Critical? Maybe You’re Just a Perfectionist de Benedict Carey, publicado no jornal New York Times. Abaixo, alguns trechos dignos de nota:

Unlike people given psychiatric labels, however, perfectionists neither battle stigma nor consider themselves to be somehow dysfunctional. On the contrary, said Alice Provost, an employee assistance counselor at the University of California, Davis, who recently ran group therapy for staff members struggling with perfectionist impulses. “They’re very proud of it,” she said. “And the culture highly values and reinforces their attitudes.” [...]

Ms. Provost said [the participants] in her program at U.C. Davis often displayed symptoms of obsessive-compulsive disorder — another risk for perfectionists. They couldn’t bear a messy desk. They found it nearly impossible to leave a job half-done, to do the next day. Some put in ludicrously long hours redoing tasks, chasing an ideal only they could see.

As an experiment, Ms. Provost had members of the group slack off on purpose, against their every instinct. “This was mostly in the context of work,” she said, “and they seem like small things, because what some of them considered failure was what most people would consider no big deal.”

Leave work on time. Don’t arrive early. Take all the breaks allowed. Leave the desk a mess. Allow yourself a set number of tries to finish a job; then turn in what you have.

“And then ask: Did you get punished? Did the university continue to function? Are you happier?” Ms. Provost said. “They were surprised that yes, everything continued to function, and the things they were so worried about weren’t that crucial.”

The British have a saying that encourages people to show their skills while mocking the universal fear of failure: Do your worst.

If you can’t tolerate your worst, at least once in a while, how true to yourself can you be?

sábado, 1 de dezembro de 2007

Constance Garnett e os russos

Quando comecei a ler Guerra e Paz de Tolstoy em inglês, a primeira coisa que procurei no livro foi uma introdução ou comentário sobre a tradutora Constance Garnett. Como se trata de uma daquelas edições populares da Barnes & Noble, o livro mal e mal tem capa, quanto mais informações relacionadas à tradução. Coincidentemente, semana passada, encontrei um artigo de David Remnick na revista New Yorker sobre Constance Garnett e outros profissionais que traduziram os grandes escritores russos. O artigo é longo, mas vale a pena.
Sobre o estilo por vezes desleixado de Garnet, Remnick comenta:

Garnett’s flaws were not the figment of a native speaker’s snobbery. She worked with such speed, with such an eye toward the finish line, that when she came across a word or a phrase that she couldn’t make sense of she would skip it and move on. [!!!] Life is short, “The Idiot” long. Garnett is often wooden in her renderings, sometimes unequal to certain verbal motifs and particularly long and complicated sentences.

O artigo também descreve o processo de trabalho de uma das traduções mais recentes de The Karamazov Brothers e fala do trabalho de Vladimir Nabokov como tradutor. Aliás, é dele o poema sobre a impossibilidade da tradução:

What is translation? On a platter
A poet’s pale and glaring head,
A parrot’s screech, a monkey’s chatter,
And profanation of the dead.
The parasites you were so hard on
Are pardoned if I have your pardon,
O Pushkin, for my stratagem.
I travelled down your secret stem,
And reached the root, and fed upon it;
Then, in a language newly learned,
I grew another stalk and turned
Your stanza, patterned on a sonnet,
Into my honest roadside prose—
All thorn, but cousin to your rose.

A tradução de Garnett pode não ser impecável, mas, uma vez que meu conhecimento de russo se limita a palavras como vodka, samovar e perestroika, não posso tecer nenhuma crítica fundamentada. De um modo geral, a linguagem é clara e, apesar de todos os nomes, sobrenomes, patronímicos, apelidos, frases em francês, notas de rodapé e notas finais (ufa!), acredite ou não, a história flui e envolve.

Ou a narrativa de Tolstoy é tão extraordinária que sobreviveu a uma tradução muito aquém do ideal, ou Garnett, apesar de suas falhas, conseguiu captar a voz do autor e as ironias, o heroísmo e o espírito da época. Talvez um pouco dos dois...

Para quem quiser ler mais sobre Tolstoy e os personagens de Guerra e Paz, a mesma revista traz um artigo esclarecedor de James Wood.

sábado, 24 de novembro de 2007

Ergonomia

No boletim mais recente da ABRATES (Associação Brasileira de Tradutores), o tradutor e professor Adauto Vilela escreve sobre ergonomia. Abaixo, trechos selecionados do artigo.

A rotina do tradutor profissional exige longas jornadas de trabalho, e isso, hoje, quer dizer muitas e muitas horas diante de um computador. [...]

Os principais vilões das histórias de LER (Lesão por Esforço Repetitivo) / DORT (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho – sigla mais recente adotada pelo INSS) relacionadas à tradução são: excessos na digitação (principalmente quanto à força e à velocidade, instalações inadequadas, descuido com a postura física, falhas na negociação de prazos, o que pode levar o tradutor a trabalhar durante 12 ou mesmo 14 horas em um mesmo dia e, é claro, a repetição dessas condições dia após dia. O tratamento inclui: analgésicos, antiinflamatórios, uso de talas e tipóias, fisioterapia, sessões de alongamento, massagem e acupuntura. Sem mencionar o afastamento do trabalho, o que, para o autônomo, pode ter sérias conseqüências profissionais e financeiras.

Para evitar todo esse incômodo, bastam alguns cuidados simples, que dizem respeito às instalações e ao condicionamento físico do tradutor. [...]

Quanto às instalações, a mesa e o suporte do monitor devem permitir uma adequação completa às características físicas do tradutor. Ao assentar-se, os pés devem estar bem apoiados no chão, os joelhos formando um ângulo reto. Com a coluna ereta e as costas apoiadas no encosto, os cotovelos do tradutor repousam nos braços da cadeira, permitindo que suas mãos se alinhem com os antebraços, quando posicionados sobre o teclado do computador. [...]

Já o monitor de vídeo precisa estar em uma altura que evite a inclinação excessiva da cabeça, pois isso força a musculatura do pescoço e dos olhos. [...]

Mas não bastam instalações adequadas, o tradutor precisa vigiar sua postura. Por isso, ele não deve escorregar na cadeira, nem se sentar sobre uma das pernas ou com as pernas cruzadas. [...]

O tradutor deve conscientizar-se de que o seu trabalho não é apenas intelectual, mas também físico. [...] Daí a importância de praticar exercícios físicos regulares, como caminhadas, natação, etc., e de sempre negociar prazos razoáveis. [...]

Intervalos regulares [no trabalho] são absolutamente necessários. Fazem bem tanto para os músculos e tendões quanto para os olhos, que precisam descansar e se recompor. Recomenda-se uma pausa de 5 a 10 minutos a cada 50 minutos de trabalho. [...]

Para [os] alongamentos, recomenda-se uma consulta a um ortopedista, fisioterapeuta ou professor de educação física.

Para mais informações: Instituto Nacional de Prevenção às LER/DORT.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

1001 Dúvidas de Português


Outro dia, deixei o orgulho em casa e comprei a versão portátil do livro 1001 Dúvidas de Português de José de Nicola e Ernani Terra (Ed. Saraiva, 2006). De acordo com a apresentação, o propósito do livro é: “Atender ao leitor comum, aquele que tem uma dúvida gramatical e precisa solucioná-la de modo rápido e preciso. Muitas vezes, esse leitor, mesmo de posse de uma boa gramática e um bom dicionário, não consegue resolvê-la em tempo hábil. Este livro não pretende — nem seria possível — substituir uma boa gramática e um bom dicionário”.

Quanto aos dicionários de língua portuguesa, trabalho com o Houaiss e o Aurélio, ambos em formato digital. Quanto à gramática, tenho a do Cegalla, não muito prática para o meu trabalho. Estou providenciando outra que me foi recomendada (mais sobre isso em breve).

O 1001 Dúvidas cumpre o que promete. Tirando vários verbetes excessivamente básicos (p. ex.: “mortadela”, e não “mortandela”; “optar”, e não “opitar”), ainda sobram tópicos úteis com explicações simples e objetivas como:

A ANOS / HÁ ANOS
Na indicação de tempo, emprega-se para indicar tempo passado (equivale a “faz”).
dois meses que ele não aparece.
Ele chegou da Europa um ano.
Utiliza-se a para indicar tempo futuro.
Daqui a dois meses ele aparecerá;
Ela voltará daqui a um ano.

Também traz um formulário ortográfico (ainda não terminei de ler) e um índice alfabético-analítico no final.
Não é um estudo profundo da nossa língua, mas rende uma boa leitura de sala de espera.
Tentarei me lembrar de incluir mais verbetes do 1001 Dúvidas em posts futuros.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Considerações acerca do tempo

Mais de um ano atrás, estudamos em nossa classe de escola dominical um ótimo livreto chamado A Tirania do Urgente de Charles E. Hummel (publicado pela Ed. Cultura Cristã, 2003; trad. Heloísa Martins. As lições são baseadas num livro homônimo da CPAD). A série de estudos ministrada pela professora Roseli Moura foi extremamente proveitosa, mas lidar com o tempo continua sendo um desafio pessoal. Minha resposta à pergunta da introdução do livro: “Você já desejou ter um dia de trinta horas?”, é: “Com certeza!”. Mas a introdução prossegue:

Nossa vida deixa um rastro de tarefas inacabadas. Cartas [e e-mails!] não respondidas, amigos que não conseguimos visitar, livros não lidos que nos perseguem em momentos silenciosos quando paramos para avaliar nosso desempenho. Precisamos desesperadamente de alívio.

Mas será que um dia mais longo resolveria nosso problema? Não estaríamos dentro de pouco tempo, tão frustrados quanto nos encontramos hoje com nossa porção de vinte e quatro horas? Dificilmente escaparíamos do princípio de Parkinson, segundo o qual: “O trabalho se expande até preencher todo o tempo disponível”.
Quando paramos o suficiente para pensar e analisar os fatos, descobrimos que o dilema é muito mais profundo do que mera falta de tempo. Basicamente, é um problema de prioridades. Trabalho duro e intenso não nos faz mal [...] Não é o trabalho intenso, mas a dúvida e a apreensão que produzem ansiedade quando avaliamos um mês ou um ano e nos sentimos oprimidos diante da pilha de tarefas não terminadas. [...] As pressões exercidas pelas exigências de outras pessoas e por nossas próprias compulsões internas acabam por nos levar a um atoleiro de frustração.


Em seis lições, o autor propõe algumas formas de mudarmos o modo de encarar nossa relação com o tempo. Abaixo, algumas considerações sobre o tema:

1. Existe uma tensão entre o urgente e o importante. Certas coisas importantes, como gastar tempo com Deus e com os amigos, podem esperar. As tarefas urgentes, por outro lado, exigem ação imediata. Tornamo-nos escravos sob a tirania do urgente. Êxodo 18.13-24 mostra como Moisés lidou com essa tensão. Ele aceitou um conselho, reavaliou suas prioridades e delegou tarefas.

2. O tempo é inadministrável. As horas passam não obstante o nosso desejo. Não administramos o tempo, mas sim, a nós mesmos e às oportunidades que surgem ao longo do dia. Estabelecemos objetivos e prioridades e realizamos tarefas utilizando o tempo sob o senhorio de Cristo.

3. Nossa postura diante do tempo: devemos ser / estar disponíveis para o Senhor, pedindo sua direção para as prioridades.

4. O que a Bíblia diz:

“Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades” (Cl 4.5, NVI).

“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Ef. 5.15-17, RA). Remir o tempo significa libertá-lo das atividades inapropriadas e usá-la para aquilo que ele foi feito, a saber, servir a Deus, aprender de Deus, encorajar uns aos outros.

“Ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama "hoje", de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado, pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio” (Hb 3.13-14). Uma exortação à veracidade, à santidade e à perseverança na fé.

“Pois nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.7-8). A vida e o tempo de cada um de nós pertencem ao Senhor. Ao aceitarmos a Cristo, colocamos nossa vida sob nova direção.

“O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9, RA).

O que tudo isso significa na prática? Devemos passar nossos dias em contemplação no alto de um monte? Deus espera que coloquemos de lado nossas responsabilidades, tarefas e prazos? Claro que não, pois muitas dessas tarefas são decorrentes das oportunidades e talentos que ele mesmo nos dá.

Se o Senhor capacitou você para traduzir ou realizar qualquer outro trabalho, ele espera que você o sirva durante algumas horas do dia dessa maneira. O número de horas e tarefas será determinado pelo seu sistema de prioridades. Estas, por sua vez, serão definidas pelo nível de relacionamento e compromisso com Deus.

Por que Deus não acrescenta horas ao nosso dia?

Talvez o Senhor queira que nos aproximemos dele para aprender a usar as horas que já temos à nossa disposição. Talvez ele deseje nos ensinar a administrar as tarefas diárias de acordo com padrões diferentes dos nossos, padrões divinos.

Uma coisa é certa: à medida que aprendemos a reconhecer a soberania de Deus sobre nossa agenda, ele não dá dias de trinta horas, mas faz as vinte e quatro horas de sempre renderem miraculosamente!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Para quem ama palavras

Divertido e instrutivo o site World Wide Words. Organizado por Michael Quinion, um Renaissance Man (alguém tem uma tradução melhor que a do Michaelis – “intelectual com cultura universal”?), o site trata de vários aspectos da língua inglesa. Particularmente úteis são as listas Weird Words e Turns of Phrase. Não trazem a tradução, mas ajudam a compreender expressões e termos esdrúxulos como “chuck-farthing” (it’s not as obscene as it sounds!) e “stoozing”.
Também vale a pena conferir os artigos. Gostei especialmente de um chamado “A rose by any other name: Losing something in translation?” que descreve a origem de alguns nomes como “Jerusalem artichoke” e “aubergines” e trata da maneira como nossa mente busca e forma padrões lingüísticos - alguns apropriados, outros, nem tanto.

domingo, 4 de novembro de 2007

Uma palavra difícil


De vez em quando, todo tradutor se depara com alguma palavra complicada. No dia a dia, porém, talvez a palavra mais difícil para o profissional freelancer não seja um termo técnico em alemão com trezentas sílabas, mas sim, um simples monossílabo: "Não".

No post de 31 de outubro/2007 do seu ótimo blog Brave New Words, B. J. Epstein fala dessa questão.

Ao ler o post e os comentários, confesso que me senti consolada por saber que outros tradutores também se afligem quando precisam dizer "não" e acabam desenvolvendo vários "jeitinhos" de usar essa palavra o mínimo possível ao lidar com seus clientes / editores.
Ao que parece, a tirania do "sim" se deve em grande parte, a um medo crônico de perder clientes e não ter trabalho suficiente para manter a cabeça fora da água.

Mas como explicar a dificuldade de dizer "não" quando se tem projetos fechados para vários meses e clientes na lista de espera? Tenho minhas suspeitas, mas prefiro tratar delas num post separado...

Você também tem dificuldade em dizer "não"? Por quê? Como lida com isso?

Just Say…A) Yes or B) No

It’s time for me to come clean about my biggest problem as a freelancer – saying “no”. I confess that I am terrible at it. I have a lot of energy and I manage to get many things done, and that combined with my desire to please makes me accept many of the projects people offer me, no matter how much else I have going on in my life. When a customer contacts me about a job that I know I have the skills for, I tend to just say “yes,” even if I know I have many other things to do or if I have planned to take a day off.

Some other freelancers I’ve spoken to have mentioned that they have a similar problem. After all, since most of us freelancers support ourselves with the income we bring in from our work and since we never know if assignments might stop coming in, we tend to take on jobs when they are offered. We worry that if we say “no” to a customer now, that person will find another translator and never return to us, and thus we will have lost more than just the one assignment. Friends and relatives of mine who are not freelancers do not understand what it is like to not have a steady paycheck, and these are the people who always say to me, “But it’s so easy to say “no.” Just do it!” I can point out, though, that this concern about having a steady income is in fact what stops many wannabe-translators from achieving their dreams.
[...]

The only situations in which I confidently turn down assignments are if I know I do not have the knowledge or qualifications necessary for a particular job or if the potential customer refuses to pay a reasonable fee or in any other way treats me disrespectfully. When it comes to my own priorities, however, they tend to come last.

So, I ask you other freelancers: When do you say “no” to assignments? How do you do it? And have you noticed whether clients you say “no” to in regard to one particular job still ask you to do other work for them?

I know many of us would benefit from saying “no” more often, but somehow my “no”s tend to turn into “yes”es.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Tradutores fazem mágica?



Informação "legitimamente furtada" do blog editorial da Mundo Cristão: O site da revista Época traz uma entrevista com Lia Wyler, tradutora da série Harry Potter no Brasil. Destaques:

Época - Qual é a grande questão que o tradutor enfrenta hoje, no país?
Lia -
A tradução, como qualquer profissão liberal, é segmentada e cada segmento tem especificidades que não permitem afirmar que exista apenas uma grande questão. Explicando melhor: na área de filmes há tradutores para legendas, narração e dublagem de filmes, vídeos e DVDs, que por sua vez são usados em cinema, televisão, escola e empresa, cada uma dessas finalidades exigindo diferentes habilitações do profissional. Qual é a grande questão para cada um desses grupos de tradutores? Não sei, mas se existe uma grande questão, e não será apenas para os tradutores, mas para todos os brasileiros, é a deficiência do ensino do português em todos os níveis.

[...]

Época - É possível esboçar a proporção de talento envolvida num trabalho de tradução literária?
Lia -
Até hoje ninguém tentou porque não há uma tradução única e genial para um texto estrangeiro. Há variações e coincidências nas traduções feitas por diferentes pessoas que agradam mais a uns e desagradam a outros e isto não significa que cada tradução não apresente rasgos de genialidade que recriem os do autor estrangeiro.

Época - Como tradutora de autores como John Updike e Henry Miller, fica decepcionada por ser reconhecida principalmente por Harry Potter?
Lia -
Não. Fico decepcionada com a incompreensão que cerca o ato de traduzir, a falta de percepção do quanto de inventividade empregamos para evitar a repetição de palavras, o exercício que é a reestruturação de frases visando a maior legibilidade do texto e mil outros recursos de que se lança mão, por vezes instintivamente dados os curtos prazos que temos para refletir. Considero o Harry Potter, com a sua multiplicidade de registros - narração, diálogos entre iguais e superiores e inferiores hierárquicos, artigos de jornal, avisos escolares, livros-texto, textos medievais, contos folclóricos, aulas, cartas entre garotos e cartas ministeriais, jogos de palavras - o maior desafio que já enfrentei depois de A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe.

domingo, 28 de outubro de 2007

Aos ergasiomaníacos de plantão

De acordo com o dicionário Aurélio, um ergasiomaníaco é alguém que sofre do desejo patológico de trabalhar permanentemente. O termo aparece no Houaiss como um cultismo e corresponde ao substantivo workaholic, definido ali como “trabalhador compulsivo”. Para quem pensa que ser workaholic é chique, sugiro uma leitura rápida (para não atrapalhar o trabalho) de alguns trechos transcritos abaixo, extraídos de um artigo sobre o assunto publicado no New York Times.
Apesar de não ser novidade, o fenômeno continua em pauta em inúmeras revistas e livros de diversas áreas.
É possível que isto se deva, em parte, ao fato de nossa sociedade valorizar o workaholic e outros compulsivos borderline – aqueles que se destacam de forma positiva por seu comportamento excessivo, mas não chegam a entrar em colapso. Um tradutor com essa tendência, por exemplo, pode ser extremamente bem-sucedido: atende a vários clientes/editores de uma vez, cumpre prazos e nunca diz “não”. Como não tira férias e trabalha fins-de-semana e feriados, também se mostra mais produtivo do que outros colegas (pelo menos por algum tempo). Se alguém pergunta ao dito cujo como estão as coisas, ele responde satisfeito: “Atolado de serviço, graças a Deus”. Tudo corre às mil maravilhas em sua linda rotina de perfeccionismo, pânico, pressão e medo de perder o controle. Mas a que preço ele obtém o seu sucesso?
Não é preciso ser um workaholic inveterado para deixar de lado as coisas importantes da vida — o relacionamento com Deus, família e amigos, por exemplo — em troca das coisas urgentes do dia-a-dia. Ao mesmo tempo, temos compromissos e responsabilidades que não podem ser ignorados. Se não suplicarmos a Deus diariamente por sabedoria e reconhecermos que nossos dias na verdade não nos pertencem (mais sobre isso em outro post), podemos acabar sacrificando coisas pequenas, porém preciosas. Assim, façamos nossas as palavras do salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias e usar nosso pouco tempo para conseguirmos a tua sabedoria” (Sl 90.12, BV).



When Hard Work Becomes Overwork
By PHYLLIS KORKKI
The New York Times, Published: October 21, 2007
Q. You put in 12 to 14 hours a day at the office and often work on weekends and at home. Some people have joked that you are a “workaholic,” and a few people close to you have even said that it’s a serious problem. Is it? How can you tell?
A. Chances are you’re a workaholic if you feel compelled to work for the sake of working, and you feel panic, anxiety or a sense of loss when you aren’t working.
The workaholic is “addicted to incessant activity” […] The behavior continues even if the worker becomes aware that it is personally harmful — even harmful to the quality of the work […]
Q. Are certain types of people more prone to workaholism than others?
A. Most workaholics are either perfectionists, have a need for control or a combination of both […]
Q. What’s the difference between workaholism and working very hard?
A. The nonworkaholic knows how to set boundaries. […] “Many of us at various times in our life have to work very long hours, but we have the internal regulator that says, ‘This has gone on long enough.’” The workaholic “feels bereft without that constant activity,” she said.
Q. What are some telltale signs of workaholism?
A. If several people close to you say they feel neglected by you because of your work, you should certainly take their concerns seriously […].
And if you regularly conceal from family members that you are working — say, sneaking into the next room to peek at your BlackBerry — you may have a problem […]
Q. Do workaholics accomplish more than people who work fewer hours?
A. Often, they don’t. For one thing, they may become so fixated on tiny details that they find it hard to move on to the next task […] “They’re not looking for ways to be more efficient; they’re just looking for ways to always have more work to do.”
Most companies think that they are benefiting from a workaholic’s long hours, even if it is at the worker’s expense, Professor Porter said. In fact, she said, workaholism can harm the company as well as the worker.
Q. How can workaholism harm a company?
A. In addition to discouraging efficiency, it can put enormous stress on co-workers. If the workaholic is a manager, he or she may expect long hours from subordinates, may force them to try to meet impossible standards, then rush in to save the day when the work is deemed substandard, Professor Porter said.
The person may look like a hero, coming in to solve crisis after crisis, when in fact the crises could have been avoided. Sometimes, the workaholic may have unwittingly created the problems to provide the endless thrill of more work.
Q. What steps can a person take to stop working too hard?
A. The behavior can be an extraordinarily hard to change, experts agree. “People will go through withdrawal,” Professor Porter said.
That is why professional help, or the active support of family members and friends, may be needed to turn the tide.
In addition, an employer could perceive the workaholic’s reduced work hours and curtailed accessibility as a drop in performance, Professor Porter said. In that case, it may be necessary to request a new assignment or a transfer within the company, she said.

QUER SABER SE VOCÊ É UM WORKAHOLIC? Faça o teste da revista Forbes (em inglês).

domingo, 21 de outubro de 2007

Glossariando

Conforme prometido no post do dia 11 de setembro de 2007, eis alguns comentários sobre o livro VocabuLando de Isa Mara Lando e a formação de um glossário pessoal.

Comprei o VocabuLando em 2006, quando foi lançada a edição ampliada e atualizada. O vocabulário é bastante útil, especialmente pelo grande número de nuanças e exemplos em cada termo. Ele e o Guia Prático de Tradução Inglesa formam uma boa dupla e se complementam em vários aspectos, pois, enquanto o Guia é dedicado especialmente aos falsos cognatos, para os quais apresenta excelentes explicações, o VocabuLando traz várias entradas com acepções atuais como worst case cenario, empowered e awesome e expressões idiomáticas.

Porém, o que mais me chamou a atenção ao ler a apresentação do vocabulário foi o relato da autora sobre como o livro tomou forma:

Tudo começou com um velho caderno de capa dura [...] senti a necessidade de elaborar meu próprio glossário para registrar meus achados e não repetir as pesquisas [...]

E, depois de algumas considerações acerca da obra, ela prossegue relatando:

Em 1988 [dois anos depois de iniciar o tal glossário] o velho caderno já não tinha mais espaço e comecei a transcrever meus achados no computador. Com isso as coisas se organizaram melhor. Adquiri o costume de anotar e prestar atenção em tudo que tivesse a ver com tradução. As boas soluções iam direto para o meu vocabulário [...] A partir de 1995 os exemplos foram ficando mais numerosos e mais completos, pescados diariamente nos mares da internet.

Gostei da idéia e resolvi começar o meu próprio glossário. Ao invés de um caderno, abri um arquivo no Word el estou compilando uma lista de palavras e expressões para as quais as soluções apresentadas nos dicionários inglês-português nem sempre são satisfatórias.

Para facilitar consultas futuras, tenho procurado acrescentar exemplos do original em inglês, seguidos de possíveis soluções e uma observação acerca da fonte, caso sejam provenientes de algum livro de consulta como o Guia Prático de Tradução Inglesa ou o VocabuLando. Algumas soluções também vêm de textos de colegas, enquanto outras são inspiradas por exemplos negativos que me levam a buscar uma alternativa mais adequada. Afinal, apenas criticar as escolhas alheias pode ser fácil e fazer bem para o ego, mas não contribuirá em nada para melhorar a qualidade dos meus textos.

A princípio, imaginei que a construção desse glossário atrapalharia o ritmo de trabalho, pois exigiria interrupções relativamente longas. Na prática, porém, apesar das consultas serem mais demoradas da primeira vez, quando me deparo com o termo novamente algumas semanas ou meses depois, algumas soluções já se encontram registradas no glossário e não preciso pesquisar outra vez. Como sempre, tem valido a pena vencer a pressa e a preguiça.

Meu discurso “I have a dream” é consideravelmente menos ambicioso do que o do Rev. Martin Luther King: Vejo tradutores cristãos trabalhando juntos para formar um glossário com palavras e expressões peculiares a textos sobre vida cristã, espiritualidade, teologia e história da igreja. Vejo profissionais se esforçando em conjunto para atender à necessidade premente de elevar o nível dos serviços prestados às editoras cristãs.

Uma vez que só fazer discurso não resolve o problema de ninguém, se Deus quiser, em 2008 pretendo disponibilizar o meu glossário aqui (em etapas).

Se você é tradutor, editor, revisor ou outro “or” e tem o seu glossário (definido aqui, como uma lista de duas ou mais palavras), considere-se oficialmente convidado / desafiado a compartilhá-lo em nosso Café.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Quê tipo de dez lise horto gráfico o corretor não em contra?


Além de ser um exercício de homofonia, o poema abaixo mostra o perigo de se confiar excessivamente no corretor de ortografia e gramática do processador de texto.

Procuro usar o corretor uma vez antes de revisar o texto e outra vez depois de terminar todas as revisões (just in case...). Mantenho ligada a opção para mostrar erros de grafia e gramática durante a digitação, permitindo que eu corrija ou desconsidere enquanto escrevo, mas desligo a substituição automática por palavras do dicionário do Word (nem sempre muito úteis).

Também procuro tomar cuidado ao colocar palavras na opção de autocorreção.

Ainda assim, já passaram algumas “pérolas” do tipo:

“O Evangelho de Luvas” ou “O Evangelho de Lulas” ao invés de “O Evangelho de Lucas”.

“O rei Salmão” ou “O rei Salsão” ao invés de “O rei Salomão”.

“O ovo de Israel” ou “O polvo de Israel” ao invés de “O povo de Israel”.


A propósito, se você encontrou algum erro no texto acima, por favor avise...


Qual a sua dica para usar o corretor ortográfico?
Algum faux pas favorito?


The Spell-Checker Poem

Candidate for a Pullet Surprise
by Mark Eckman and Jerrold H. Zar

I have a spelling checker,
It came with my PC.
It plane lee marks four my revue
Miss steaks aye can knot sea.

Eye ran this poem threw it,
Your sure reel glad two no.
Its vary polished in it's weigh.
My checker tolled me sew.

A checker is a bless sing,
It freeze yew lodes of thyme.
It helps me right awl stiles two reed,
And aides me when eye rime.

Each frays come posed up on my screen
Eye trussed too bee a joule.
The checker pours o'er every word
To cheque sum spelling rule.

Bee fore a veiling checker's
Hour spelling mite decline,
And if we're lacks oar have a laps,
We wood bee maid too wine.

Butt now bee cause my spelling
Is checked with such grate flare,
Their are know fault's with in my cite,
Of nun eye am a wear.

Now spelling does knot phase me,
It does knot bring a tier.
My pay purrs awl due glad den
With wrapped word's fare as hear.

To rite with care is quite a feet
Of witch won should bee proud,
And wee mussed dew the best wee can,
Sew flaw's are knot aloud.

Sow ewe can sea why aye dew prays
Such soft wear four pea seas,
And why eye brake in two averse
Buy righting want too pleas.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Miscelânea

Para começar bem a semana, duas sugestões:

Encontrei esta citação no espirituoso blog Enigmatic Mermaid. Onde diz “books”, leia-se “translations”...
"Books and dishes have this common fate; there was never any one of either of them, that pleased all palates.
And in truth, it is a thing as little to be wished for, as expected, for a universal applause is at least two thirds of a scandal".
Sir Roger L'Estrange, 1673

Não deixe de conferir também o tira-teimas, um blog sobre a origem de expressões idiomáticas na língua portuguesa, com uma boa lista de links ("Utilidades").

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Me, Myself and My Text

Abaixo, um resumo e comentários sobre o capítulo “Revision and self-criticism” do curso on-line de tradução Logos.

A revisão é uma etapa extremamente importante do nosso trabalho. No caso do tradutor que trabalha para editoras, o texto ainda será revisado pelo menos duas vezes. Mas, como discutimos num post anterior (Um original problemático), isto não significa que o texto pode ser enviado para a editora sem uma revisão cuidadosa do tradutor. A meu ver, a responsabilidade maior pela qualidade do texto é do tradutor, e não do revisor.

Porém, revisar nosso próprio trabalho não é uma tarefa tão simples quanto parece. Temos a tendência natural de sempre considerar satisfatório o resultado final de nossos esforços. Certos mecanismos mentais nos dão a impressão de que nosso texto faz sentido, pelo simples fato de ter sido escrito por nós. Quando esses mecanismos falham, corremos o risco de viver numa condição permanente de incerteza e frustração acerca da inadequação de nosso desempenho. É evidente que tais mecanismos podem ter repercussões negativas. Se forem excessivamente desenvolvidos, o indivíduo se sentirá seguro demais, e não terá um nível adequado de autocrítica – um defeito grave num tradutor.

Quando um tradutor termina o primeiro rascunho e começa a revisá-lo, o que tem diante de si é, em parte, um texto novo, pois, apesar de ser fruto do seu trabalho, foi gerado parcialmente por um processo habitual e por um movimento alternado que oscila entre a leitura, a tradução em estado alerta e a tradução em “piloto automático”. Uma vez que se trata de uma tarefa árdua, os mecanismos mentais interferem de modo a proporcionar uma “compensação” ao indivíduo: o trabalho foi difícil, mas gerou um produto de boa qualidade. Assim, a autocrítica e a revisão do próprio texto são processos extremamente complicados. É preciso ativar a sondagem crítica de um produto que é seu e, portanto, por definição mental, que é bom.

A capacidade do tradutor de se desvincular do próprio texto é inversamente proporcional ao seu investimento geral e afetivo nesse texto. Quanto mais tempo e esforço foram dedicados a um projeto, mas difícil será ver seus defeitos. Por outro lado, um texto extremamente maçante pode levar até o tradutor mais atento a baixar a guarda. Esta realidade nos leva à seguinte pergunta acerca da revisão do próprio texto: Existem técnicas para evitar os mecanismos mentais que nos fazem defender as nossas escolhas na tradução do texto?

Acima de tudo, o tradutor deve ser esforçar ao máximo para ler o seu texto como se tivesse sido traduzido por outra pessoa. Para isso, dentro das suas possibilidades, precisa se distanciar do texto no tempo e no espaço.

1. Quanto à distância temporal, o período entre a tradução e a revisão deve ser o mais longo possível. No meu esquema de trabalho, procuro intercalar as tarefas de tradução e revisão, de preferência, de livros diferentes. Termino a tradução e coloco o texto “na gaveta”. Entrementes, traduzo outro material. Então, volto ao primeiro trabalho para revisá-lo e - surprise! – encontro um bocado de coisas que precisam ser melhoradas. Claro que nem sempre é possível proceder dessa forma, pois muitos projetos são “para ontem”. Ainda assim, pelo menos dois ou três dias de intervalo fazem uma grande diferença.

2. Quanto à distância espacial, a desvinculação entre o tradutor e o texto se dá, em ordem crescente:

a) lendo o próprio texto na tela do computador (fortemente desaconselhável);

b) ler o próprio texto impresso (não recomendável);

c) ler o próprio texto sozinho em voz alta;

d) ler o próprio texto em voz alta para outra pessoa (fortemente recomendável);

e) ouvir alguém lendo o texto (fortemente recomendável);

f) ouvir alguém lendo o texto diante de um público mais amplo (o ideal, mas impraticável).

Confesso que estou anos-luz do ideal: normalmente reviso pelo método a); às vezes, pelo método b). As outras sugestões são inviáveis para o meu volume de trabalho.

No momento, estou testando outra técnica para aumentar o nível de atenção e autocrítica na hora da revisão. Depois de revisar algumas páginas, escolho um artigo da internet ou um livro com uma tradução problemática (infelizmente, ambos são fáceis de encontrar) e leio por alguns minutos, procurando detectar e corrigir os erros ou melhorar os trechos excessivamente literais. Em seguida, volto ao meu material, esforçando-me para manter o mesmo espírito crítico. Observei que esse expediente ajuda a encontrar frases pouco elegantes, “queísmos”, repetições e “outros bichos” no meu próprio texto.

At last, but not the least, busquemos a Deus para pedir três “graças”:

1. Os recursos necessários para superar as barreiras mentais que nos impedem de ver as imperfeições de nosso próprio trabalho.

2. Humildade para aprender com nossos erros e com os acertos de colegas.

3. O equilíbrio essencial entre autoconfiança e autocrítica, para não nos tornarmos nem inseguros e indecisos, nem inflexíveis e arrogantes.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Quem trabalha conosco?

Alguém me disse que traduzir é um trabalho solitário. Sem dúvida, o tradutor que presta serviços para editoras passa bastante tempo sozinho, mas, ainda assim, faz parte de uma equipe de produção. Talvez não tenha contato pessoal com os outros membros dessa equipe, mas eles estão lá, se empenhando a cada dia em inúmeras tarefas de grande importância - afinal, nossos arquivos do Word não se transformam em livros publicados num passe de mágica. Além do editor, uma das pessoas com as quais o tradutor costuma ter contato direto é o assistente editorial. A Miriam de Assis, minha colega na Editora Mundo Cristão concordou em descrever para nós o trabalho desse profissional e sua relação com o tradutor. Meus sinceros agradecimentos à Miriam por nos ajudar a entender que, mesmo trabalhando sozinhos, não somos solitários. Se nosso nome aparece no expediente (e o pagamento aparece em nossa conta bancária...), é porque vários outros profissionais fizeram a parte deles.

O assistente editorial

Eu costumo dizer que meu trabalho é a parte burocrática do departamento editorial. Sou responsável pela emissão de contratos e distribuição de documentos que passam pelo departamento. Minha rotina de trabalho consiste em fazer a programação dos pagamentos dos prestadores de serviços que colaboraram na elaboração do livro. Razão esta que me faz ter muito contato com tradutor, revisor, diagramador e capista. Entre algumas de minhas tarefas de trabalho estão: Solicitação de ficha catalográfica do livro e ISBN. Quando faço esses pedidos “burocráticos” tenho a preocupação de mencionar corretamente o nome do tradutor para que ele obtenha o crédito que lhe é por direito.

Eu não sou responsável pela escolha do tradutor, mas sou responsável por enviar a obra a ser traduzida e acompanhar o prazo combinado para tradução. Para mim, o papel do tradutor é tão importante, pois expressa com profundidade o que o autor escreveu. O tradutor transmite todo o pensamento e anseio do autor, ele é o causador do efeito produzido no coração e espírito de um leitor, que lê uma obra e se identifica e se desenvolve com a leitura. As atribuições do tradutor são indispensáveis para a qualidade da obra e a paixão com que ele traduz o livro faz o resultado ser promissor.

Meu contato com os tradutores é “virtual”, ou seja, tratamos e resolvemos todas as questões administrativas por e-mail. Mas, mesmo sendo uma relação “distante” me sinto muito próxima por participar dos detalhes para o cumprimento do trabalho. A comunicação é fundamental para a realização do nosso trabalho, e isso promove um elo de amizade e cuidado mútuo.

Para todo o trabalho fluir é essencial que eu tenha uma visão holística de processos, senso apurado de organização e de planejamento de tarefas e engajamento nos objetivos traçados pela equipe, sendo flexível, cordial e exercendo cooperatividade e habilidade relacional. Eu sou a “ponte” entre os colaboradores externos (tradutores) e internos (editor) no que se refere às necessidades e/ou dúvidas surgidas.

O contato que preciso manter com os tradutores gera um vínculo muito significativo para mim, pelo fato de participar de um projeto que é cuidadosamente planejado para ser executado com excelência em todas as etapas, e esse trabalho começa na tradução da obra.

Minha maior satisfação é encaminhar para o tradutor a obra finalizada (o livro impresso) e ler os comentários dos leitores sobre as obras, para mim é gratificante fazer parte deste trabalho, ver estampado no livro os nomes das pessoas que cooperaram com dedicação e empenho para a execução do projeto.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Colegas em apuros

Li esta notícia ontem. Ela é de dez dias atrás, mas, sem dúvida, nossos colegas tradutores na Nicarágua continuam precisando de orações. Também é uma oportunidade de lembrarmos dos muitos tradutores cristãos ao redor do mundo que trabalham em contextos extremamente difíceis.

A United Bible Societies, da qual a Sociedade Bíblica do Brasil faz parte, é uma organização que se dedica a traduzir e distribuir a Bíblia em várias línguas e dialetos.

LATEST NEWS # 441, September 18, 2007

NICARAGUA — Hurricane Felix, which hit Nicaragua at the beginning of the month, inflicted major damage on the homes of a Bible Society promoter and three translators in Puerto Cabezas, 780 kms from the capital, Managua, and in Waspán.

In the days following the hurricane, Freddy Fonseca, the General Secretary of the Bible Society of Nicaragua, despatched a series of graphic e-mails. […] Bible Society promoter Pastor Edmund Lacayo told Mr Fonseca that his entire house in Puerto Cabezas had been destroyed. Fortunately, his wife, son and two small grandchildren were unharmed.

“When the metal [roofing] sheets began to go up,” he said, “my wife, my son and our two small grandchildren were on our knees, asking God to pity us, saying that we were in his hands. We all had our eyes closed when we felt some arms lift us up and show us where to get out. I opened my eyes and saw that there was nothing around me: there was no roof and the wooden walls of my house had gone… But all the time I trusted in God – that he would protect the lives of my family and me.”

The family was rescued by some Christians and other neighbours and they are now living in a temporary refuge. Fortunately, Mr Lacayo keeps his stock of Bible materials in the cellar of his house where they have remained safe from the ravages of the hurricane.[…]

After the hurricane, he added, in spite of the chaotic state, nearby churches were full of people of all denominations praying, praising God and holding Faith Comes By Hearing listening sessions from loudspeakers which were running on gasoline-powered generators.

He also told Mr Fonseca that there was an urgent demand for Bible and New Testaments. “People are asking for more than just Portions,” he said. “The churches are full to overflowing; we are all in need: lots of pastors lost their Bibles and are asking me for more.”

Meanwhile, elsewhere in Puerto Cabezas, Barnabás Waldan, a Miskito Bible translator, lost part of the roof of his home. Thankfully, his wife and children were unharmed and the damage, severe though it was, didn’t prevent him from opening his house to a prayer group.

[…] “The overwhelming need is for more Scriptures,” he said. “With Edmund [Lacayo], our Promoter, I delivered all those that we had available and people are asking for more. Right now as I am speaking to you, I have 22 people standing in what remains of my house asking for more Portions to read.”[…]

Leia a notícia completa aqui (ver #441).

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Quem mexeu no meu texto?


APRESENTAÇÃO
Quem mexeu no meu texto? apresenta oportunidade única para conhecer as melhores práticas editoriais, proporcionando contato direto com pessoas de destacada atuação no mercado, num momento de profundas transformações tecnológicas e crescentes desafios profissionais.

PÚBLICO-ALVO
Escritores, tradutores, revisores, alunos e outros profissionais interessados na área editorial.

ONDE
Universidade Mackenzie
Rua Piauí, 143 - São Paulo, SP.

QUANDO
10 de novembro, das 9 às 18 horas.

PALESTRANTES
Prof. Almiro Pisetta – USP
Profa. Lenita Rimoli Esteves – USP
Mark Carpenter – Escritor e Editor
Renato Fleischner – Editor
Omar de Souza – Jornalista
Silvia Justino – Editora
Aldo Menezes – Escritor e Editor
Israel Belo – Escritor

PROGRAMA
  • O papel do escritor no contexto editorial
  • A posição do tradutor no processo editorial
  • A importância da normatização textual
  • O argumento persuasivo para escritores
  • Técnicas de pesquisa para tradução
  • Discutindo a gramática: sintaxe, estilo e semântica
  • Fontes de inspiração e direitos autorais
  • A arte de resgatar e redimir o texto
INVESTIMENTO
R$ 60,00 (Inclui: material, coffee break e certificado. Não inclui: estacionamento e almoço.)

Faça sua inscrição. Vagas limitadas.
Mais informações através do fone
(11) 2127.4102.

O QUE É O INSTITUTO MUNDO CRISTÃO
O Instituto Mundo Cristão é um órgão sem fins lucrativos vinculado à Editora Mundo Cristão,
uma das editoras mais tradicionais do país. Foi criado com o objetivo de contribuir para a
formação e o desenvolvimento de profissionais do segmento editorial e de desenvolver projetos próprios, ou em parcerias com outras instituições, visando a incentivar a leitura.

sábado, 22 de setembro de 2007

Valha-me São Jerônimo!

O último dia de setembro é dia de São Jerônimo, o padroeiro dos tradutores. Mas para que serve um padroeiro?

No catolicismo, ele é um santo que intercede junto a Deus por um determinado grupo de pessoas com os quais tem mais afinidade. Há quem considere uma demonstração de humildade e devoção não dirigir suas súplicas diretamente a Deus, mas a um santo — de preferência, o padroeiro associado ao rogo em questão.

Porém, também há quem creia que Cristo, por meio de seu sacrifício na cruz e ressurreição dentre os mortos, concede acesso direto ao Pai, como deixa claro a Epístola aos Hebreus: “Mas Jesus, o Filho de Deus, é o nosso grande Supremo Sacerdote que foi diretamente para o céu, a fim de nos ajudar [...] Portanto, vamos ousadamente até o próprio trono de Deus e permaneçamos lá para recebermos a sua misericórdia e acharmos a sua graça para nos ajudar em nossos tempos de necessidade” (4.14-16).

Nesse caso, de que vale um santo padroeiro? Para quem se dispuser a não jogar fora o bebê com a água do banho, pode valer muito. Um padroeiro não vai nos proteger nem rogar por nós, mas pode servir de exemplo e inspiração em nossa jornada pessoal e profissional.

Em sua vida de fé, Jerônimo teve altos e baixos, mas buscou arduamente colocar seu relacionamento com Deus antes das coisas terrenas.

Em sua vida de trabalho, Jerônimo foi um exemplo de dedicação à pesquisa. Ao receber a incumbência de revisar a Vetus Latina, o conjunto de traduções de textos bíblicos para o latim usado pela igreja da época, Jerônimo se mudou para Jerusalém a fim de aprimorar seu conhecimento do hebraico e entender melhor a cultura e literatura judaica.

Também demonstrou espírito inovador, pois, sempre que possível, ao invés de usar a Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para o grego), a exemplo dos tradutores do seu tempo, foi diretamente aos textos hebraicos, contrariando até estudiosos do calibre de Agostinho que consideravam a Septuaginta inspirada. O resultado de seus esforços foi a Vulgata, a Bíblia em latim na qual se basearam várias outras traduções importantes, como a de John Wycliffe para o inglês (sobre a qual pretendo comentar num post à parte em breve).

A Vulgata também exerceu influência importante no desenvolvimento da língua inglesa. Considere, entre muitos outros, os termos “creation” do latim creatio, “salvation” de salvatio, “rapture” de raptura, “publican” de publicanus e a expressão “be it far from thee” empregada na versão King James (Mt 16.22 – no português, “tem compaixão de ti, Senhor”; lit. “longe de ti, Senhor”) do latim absit.

Como qualquer ser humano imperfeito, Jerônimo cometeu erros tanto na vida pessoal quanto profissional, mas sabia onde encontrar o perdão para os pecados e as forças para colocar em prática o seu próprio conselho: “Good, better, best. Never let it rest. 'Til your good is better and your better is best”.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Um original problemático

O fato de um livro ter sido publicado em outro país — como é o caso da maioria dos originais com os quais trabalho — não garante que seu texto será bem redigido e preciso. Não é raro encontrar erros de grafia e gramática, ambigüidades e inexatidões de vários tipos.

Até que ponto o tradutor pode ou deve “melhorar” o original?

A resposta a esta pergunta vai depender do objetivo de nosso trabalho. Se considerarmos satisfatório simplesmente transpor para a língua alvo o conteúdo do texto original, bastará corrigir os erros de grafia e gramática (p. ex., concordância). Se, porém, desejarmos ter como resultado final um texto coerente e fluente, no qual as idéias do autor são apresentadas de forma clara e precisa, oferecendo dados corretos, o trabalho poderá ser muito maior.

No caso da tradução literária, dependendo do estado do original, pode ser necessário não apenas investigar outras partes da obra na tentativa de esclarecer as ambigüidades, mas também consultar o autor quanto ao significado de determinadas passagens. Em algumas obras, as idéias são compreensíveis, mas se encontram formuladas de maneira confusa e / ou repetitiva. Em situações como essas, costumo perguntar ao editor até que ponto tenho liberdade de fazer mudanças para articular mais claramente os conceitos apresentados. A resposta normalmente é a mesma: desde que se mantenha o sentido do original e o estilo geral da obra, as construções de frases e até de parágrafos podem ser alteradas para produzir um texto mais harmônico.

É necessário considerar, ainda, as imprecisões. Ao traduzir comentários bíblicos ou outros originais com base em textos das Escrituras, é comum encontrar referências bíblicas incorretas. Na maioria das vezes, esse problema pode ser resolvido facilmente usando-se a ferramenta de busca num software ou site que tenha várias versões da Bíblia em inglês e português como a Biblioteca Digital da Bíblia Libronix ou a Online Bible (ver também lista de sites de referência ao lado). Evidentemente, por uma questão de tempo, o tradutor não poderá verificar todas as referências bíblicas (um comentário pode ter dezenas delas numa única página), mas é importante checar pelo menos aquelas cujo texto é citado e ficar atento para os erros claros (p. ex. referências como Gn 113.12).

O tradutor que trabalha com textos bíblicos, históricos e teológicos precisa ficar alerta, ainda, para personagens, datas e lugares. Nessas horas, o conhecimento acumulado ao longo dos anos de trabalho e leitura ajuda a detectar e retificar os erros. O tradutor especializado em determinados assuntos normalmente tem mais facilidade de lidar com esse tipo de problema, pois consegue acumular conhecimento suficiente pelo menos para detectar as inexatidões e saber onde encontrar as informações necessárias para corrigi-las.

Quando o cliente é o autor do texto, é preciso, evidentemente, usar de muito tato ao procurar esclarecer dúvidas e apontar erros. Por outro lado, o trabalho pode ser mais gratificante, pois um bom diálogo com o autor permitirá a produção de um texto final de melhor qualidade.

Por fim, não devemos nos esquecer dos “casos perdidos”, originais tão mal escritos que não teriam como ser traduzidos e que, talvez, faríamos bem em recusar para não colocar em jogo o nosso nome, pois o leitor final poderia atribuir a condição deplorável do texto ao tradutor.

Sem dúvida as estratégias discutidas acima para trabalhar com um texto problemático exigem tempo, do qual nem sempre dispomos devido à necessidade de cumprir prazos. Mas, à medida do possível, creio que é nossa responsabilidade entregar para a revisão um texto “limpo” e com o menor número possível de erros. Talvez o melhor elogio que um tradutor pode receber de um revisor seja: “Revisar seu trabalho é ganhar dinheiro fácil”.

Mas, se o dinheiro do revisor vai ser tão fácil, por que o nosso tem de ser tão suado? Porque nos preocupamos o suficiente — em primeiro lugar, com nossos leitores e, em segundo lugar com nossa reputação — para andar várias milhas a mais. Nenhum tradutor pode desenvolver uma carreira decente deixando todo o trabalho para o revisor. É preciso ter espírito crítico, interagir com editor, com o autor e, se possível, também com o revisor. A meu ver, vale a pena tentar negociar prazos e vencer a preguiça de pesquisar (quem não tem a dita cuja que atire a primeira enciclopédia).

Se desejamos ser tão respeitados em nossa profissão quanto os autores dos originais, precisamos trabalhar, no mínimo, tanto quanto eles... às vezes muitos mais.

Quais estratégias você usa para lidar com textos problemáticos?