sábado, 24 de novembro de 2007

Ergonomia

No boletim mais recente da ABRATES (Associação Brasileira de Tradutores), o tradutor e professor Adauto Vilela escreve sobre ergonomia. Abaixo, trechos selecionados do artigo.

A rotina do tradutor profissional exige longas jornadas de trabalho, e isso, hoje, quer dizer muitas e muitas horas diante de um computador. [...]

Os principais vilões das histórias de LER (Lesão por Esforço Repetitivo) / DORT (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho – sigla mais recente adotada pelo INSS) relacionadas à tradução são: excessos na digitação (principalmente quanto à força e à velocidade, instalações inadequadas, descuido com a postura física, falhas na negociação de prazos, o que pode levar o tradutor a trabalhar durante 12 ou mesmo 14 horas em um mesmo dia e, é claro, a repetição dessas condições dia após dia. O tratamento inclui: analgésicos, antiinflamatórios, uso de talas e tipóias, fisioterapia, sessões de alongamento, massagem e acupuntura. Sem mencionar o afastamento do trabalho, o que, para o autônomo, pode ter sérias conseqüências profissionais e financeiras.

Para evitar todo esse incômodo, bastam alguns cuidados simples, que dizem respeito às instalações e ao condicionamento físico do tradutor. [...]

Quanto às instalações, a mesa e o suporte do monitor devem permitir uma adequação completa às características físicas do tradutor. Ao assentar-se, os pés devem estar bem apoiados no chão, os joelhos formando um ângulo reto. Com a coluna ereta e as costas apoiadas no encosto, os cotovelos do tradutor repousam nos braços da cadeira, permitindo que suas mãos se alinhem com os antebraços, quando posicionados sobre o teclado do computador. [...]

Já o monitor de vídeo precisa estar em uma altura que evite a inclinação excessiva da cabeça, pois isso força a musculatura do pescoço e dos olhos. [...]

Mas não bastam instalações adequadas, o tradutor precisa vigiar sua postura. Por isso, ele não deve escorregar na cadeira, nem se sentar sobre uma das pernas ou com as pernas cruzadas. [...]

O tradutor deve conscientizar-se de que o seu trabalho não é apenas intelectual, mas também físico. [...] Daí a importância de praticar exercícios físicos regulares, como caminhadas, natação, etc., e de sempre negociar prazos razoáveis. [...]

Intervalos regulares [no trabalho] são absolutamente necessários. Fazem bem tanto para os músculos e tendões quanto para os olhos, que precisam descansar e se recompor. Recomenda-se uma pausa de 5 a 10 minutos a cada 50 minutos de trabalho. [...]

Para [os] alongamentos, recomenda-se uma consulta a um ortopedista, fisioterapeuta ou professor de educação física.

Para mais informações: Instituto Nacional de Prevenção às LER/DORT.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

1001 Dúvidas de Português


Outro dia, deixei o orgulho em casa e comprei a versão portátil do livro 1001 Dúvidas de Português de José de Nicola e Ernani Terra (Ed. Saraiva, 2006). De acordo com a apresentação, o propósito do livro é: “Atender ao leitor comum, aquele que tem uma dúvida gramatical e precisa solucioná-la de modo rápido e preciso. Muitas vezes, esse leitor, mesmo de posse de uma boa gramática e um bom dicionário, não consegue resolvê-la em tempo hábil. Este livro não pretende — nem seria possível — substituir uma boa gramática e um bom dicionário”.

Quanto aos dicionários de língua portuguesa, trabalho com o Houaiss e o Aurélio, ambos em formato digital. Quanto à gramática, tenho a do Cegalla, não muito prática para o meu trabalho. Estou providenciando outra que me foi recomendada (mais sobre isso em breve).

O 1001 Dúvidas cumpre o que promete. Tirando vários verbetes excessivamente básicos (p. ex.: “mortadela”, e não “mortandela”; “optar”, e não “opitar”), ainda sobram tópicos úteis com explicações simples e objetivas como:

A ANOS / HÁ ANOS
Na indicação de tempo, emprega-se para indicar tempo passado (equivale a “faz”).
dois meses que ele não aparece.
Ele chegou da Europa um ano.
Utiliza-se a para indicar tempo futuro.
Daqui a dois meses ele aparecerá;
Ela voltará daqui a um ano.

Também traz um formulário ortográfico (ainda não terminei de ler) e um índice alfabético-analítico no final.
Não é um estudo profundo da nossa língua, mas rende uma boa leitura de sala de espera.
Tentarei me lembrar de incluir mais verbetes do 1001 Dúvidas em posts futuros.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Considerações acerca do tempo

Mais de um ano atrás, estudamos em nossa classe de escola dominical um ótimo livreto chamado A Tirania do Urgente de Charles E. Hummel (publicado pela Ed. Cultura Cristã, 2003; trad. Heloísa Martins. As lições são baseadas num livro homônimo da CPAD). A série de estudos ministrada pela professora Roseli Moura foi extremamente proveitosa, mas lidar com o tempo continua sendo um desafio pessoal. Minha resposta à pergunta da introdução do livro: “Você já desejou ter um dia de trinta horas?”, é: “Com certeza!”. Mas a introdução prossegue:

Nossa vida deixa um rastro de tarefas inacabadas. Cartas [e e-mails!] não respondidas, amigos que não conseguimos visitar, livros não lidos que nos perseguem em momentos silenciosos quando paramos para avaliar nosso desempenho. Precisamos desesperadamente de alívio.

Mas será que um dia mais longo resolveria nosso problema? Não estaríamos dentro de pouco tempo, tão frustrados quanto nos encontramos hoje com nossa porção de vinte e quatro horas? Dificilmente escaparíamos do princípio de Parkinson, segundo o qual: “O trabalho se expande até preencher todo o tempo disponível”.
Quando paramos o suficiente para pensar e analisar os fatos, descobrimos que o dilema é muito mais profundo do que mera falta de tempo. Basicamente, é um problema de prioridades. Trabalho duro e intenso não nos faz mal [...] Não é o trabalho intenso, mas a dúvida e a apreensão que produzem ansiedade quando avaliamos um mês ou um ano e nos sentimos oprimidos diante da pilha de tarefas não terminadas. [...] As pressões exercidas pelas exigências de outras pessoas e por nossas próprias compulsões internas acabam por nos levar a um atoleiro de frustração.


Em seis lições, o autor propõe algumas formas de mudarmos o modo de encarar nossa relação com o tempo. Abaixo, algumas considerações sobre o tema:

1. Existe uma tensão entre o urgente e o importante. Certas coisas importantes, como gastar tempo com Deus e com os amigos, podem esperar. As tarefas urgentes, por outro lado, exigem ação imediata. Tornamo-nos escravos sob a tirania do urgente. Êxodo 18.13-24 mostra como Moisés lidou com essa tensão. Ele aceitou um conselho, reavaliou suas prioridades e delegou tarefas.

2. O tempo é inadministrável. As horas passam não obstante o nosso desejo. Não administramos o tempo, mas sim, a nós mesmos e às oportunidades que surgem ao longo do dia. Estabelecemos objetivos e prioridades e realizamos tarefas utilizando o tempo sob o senhorio de Cristo.

3. Nossa postura diante do tempo: devemos ser / estar disponíveis para o Senhor, pedindo sua direção para as prioridades.

4. O que a Bíblia diz:

“Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades” (Cl 4.5, NVI).

“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Ef. 5.15-17, RA). Remir o tempo significa libertá-lo das atividades inapropriadas e usá-la para aquilo que ele foi feito, a saber, servir a Deus, aprender de Deus, encorajar uns aos outros.

“Ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama "hoje", de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado, pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio” (Hb 3.13-14). Uma exortação à veracidade, à santidade e à perseverança na fé.

“Pois nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.7-8). A vida e o tempo de cada um de nós pertencem ao Senhor. Ao aceitarmos a Cristo, colocamos nossa vida sob nova direção.

“O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9, RA).

O que tudo isso significa na prática? Devemos passar nossos dias em contemplação no alto de um monte? Deus espera que coloquemos de lado nossas responsabilidades, tarefas e prazos? Claro que não, pois muitas dessas tarefas são decorrentes das oportunidades e talentos que ele mesmo nos dá.

Se o Senhor capacitou você para traduzir ou realizar qualquer outro trabalho, ele espera que você o sirva durante algumas horas do dia dessa maneira. O número de horas e tarefas será determinado pelo seu sistema de prioridades. Estas, por sua vez, serão definidas pelo nível de relacionamento e compromisso com Deus.

Por que Deus não acrescenta horas ao nosso dia?

Talvez o Senhor queira que nos aproximemos dele para aprender a usar as horas que já temos à nossa disposição. Talvez ele deseje nos ensinar a administrar as tarefas diárias de acordo com padrões diferentes dos nossos, padrões divinos.

Uma coisa é certa: à medida que aprendemos a reconhecer a soberania de Deus sobre nossa agenda, ele não dá dias de trinta horas, mas faz as vinte e quatro horas de sempre renderem miraculosamente!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Para quem ama palavras

Divertido e instrutivo o site World Wide Words. Organizado por Michael Quinion, um Renaissance Man (alguém tem uma tradução melhor que a do Michaelis – “intelectual com cultura universal”?), o site trata de vários aspectos da língua inglesa. Particularmente úteis são as listas Weird Words e Turns of Phrase. Não trazem a tradução, mas ajudam a compreender expressões e termos esdrúxulos como “chuck-farthing” (it’s not as obscene as it sounds!) e “stoozing”.
Também vale a pena conferir os artigos. Gostei especialmente de um chamado “A rose by any other name: Losing something in translation?” que descreve a origem de alguns nomes como “Jerusalem artichoke” e “aubergines” e trata da maneira como nossa mente busca e forma padrões lingüísticos - alguns apropriados, outros, nem tanto.

domingo, 4 de novembro de 2007

Uma palavra difícil


De vez em quando, todo tradutor se depara com alguma palavra complicada. No dia a dia, porém, talvez a palavra mais difícil para o profissional freelancer não seja um termo técnico em alemão com trezentas sílabas, mas sim, um simples monossílabo: "Não".

No post de 31 de outubro/2007 do seu ótimo blog Brave New Words, B. J. Epstein fala dessa questão.

Ao ler o post e os comentários, confesso que me senti consolada por saber que outros tradutores também se afligem quando precisam dizer "não" e acabam desenvolvendo vários "jeitinhos" de usar essa palavra o mínimo possível ao lidar com seus clientes / editores.
Ao que parece, a tirania do "sim" se deve em grande parte, a um medo crônico de perder clientes e não ter trabalho suficiente para manter a cabeça fora da água.

Mas como explicar a dificuldade de dizer "não" quando se tem projetos fechados para vários meses e clientes na lista de espera? Tenho minhas suspeitas, mas prefiro tratar delas num post separado...

Você também tem dificuldade em dizer "não"? Por quê? Como lida com isso?

Just Say…A) Yes or B) No

It’s time for me to come clean about my biggest problem as a freelancer – saying “no”. I confess that I am terrible at it. I have a lot of energy and I manage to get many things done, and that combined with my desire to please makes me accept many of the projects people offer me, no matter how much else I have going on in my life. When a customer contacts me about a job that I know I have the skills for, I tend to just say “yes,” even if I know I have many other things to do or if I have planned to take a day off.

Some other freelancers I’ve spoken to have mentioned that they have a similar problem. After all, since most of us freelancers support ourselves with the income we bring in from our work and since we never know if assignments might stop coming in, we tend to take on jobs when they are offered. We worry that if we say “no” to a customer now, that person will find another translator and never return to us, and thus we will have lost more than just the one assignment. Friends and relatives of mine who are not freelancers do not understand what it is like to not have a steady paycheck, and these are the people who always say to me, “But it’s so easy to say “no.” Just do it!” I can point out, though, that this concern about having a steady income is in fact what stops many wannabe-translators from achieving their dreams.
[...]

The only situations in which I confidently turn down assignments are if I know I do not have the knowledge or qualifications necessary for a particular job or if the potential customer refuses to pay a reasonable fee or in any other way treats me disrespectfully. When it comes to my own priorities, however, they tend to come last.

So, I ask you other freelancers: When do you say “no” to assignments? How do you do it? And have you noticed whether clients you say “no” to in regard to one particular job still ask you to do other work for them?

I know many of us would benefit from saying “no” more often, but somehow my “no”s tend to turn into “yes”es.