segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

A videira


Em nossos dias, o sucesso de países, empresas e pessoas é medido por sua produtividade.
Num contexto em que os anseios internos e as necessidades externas nos pressionam a produzir incessantemente, as palavras de Jesus em João 15.5 nos dão a perspectiva correta: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer".
Por mais bem-sucedida que pareça, uma existência separada da verdadeira Fonte de vida é incapaz de dar frutos duradouros.

Em 2008, permaneçamos em Cristo a cada dia, buscando nele tudo que precisamos para ter uma vida repleta de significado e de frutos benéficos para o mundo presente e relevantes para nossa existência eterna.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

CCJ da Câmara aprova lei contra estrangeirismos

Da Agência Estado
Denise Madueño, de Brasília
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou na manhã desta quinta-feira (13 de dezembro) projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que proíbe o uso de estrangeirismos no país.

Pelo projeto, toda palavra ou expressão escrita em língua estrangeira e destinada ao conhecimento público no Brasil virá acompanhada, em letra de igual destaque, do termo ou da expressão correspondente em português.
Isso inclui os meios de comunicação de massa, as mensagens publicitárias e as informações comerciais.
No caso de documentos da administração pública, o uso do português é obrigatório. A punição para os infratores ainda será definida em lei.
O projeto já foi aprovado pelo Senado, e agora falta apenas a votação pelo plenário da Câmara.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Traduzir é uma vocação?

Comecemos pela definição do termo “vocação”:

Houaiss

1. Disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão; pendor, propensão, tendência. / 2. Derivação: por extensão de sentido: qualquer aptidão ou gosto natural; disposição, pendor, talento.

Aurélio

1.Ato de chamar. / 2.Escolha, chamamento, predestinação. / 3.Tendência, disposição, pendor. / 4.P. ext. Talento, aptidão.

O sentido em inglês é um pouco diferente:

American Heritage Dictionary

1. A regular occupation, especially one for which a person is particularly suited or qualified. / 2. An inclination, as if in response to a summons, to undertake a certain kind of work, especially a religious career; a calling.

A julgar por essas definições, parece correto chamar a atividade de alguns tradutores de vocação. Apesar de nem todos possuírem a disposição natural, o talento e o chamamento de cunho religioso, muitos enxergam sua ocupação por esse prisma.

A forma como encaramos o trabalho influencia pequenas e grandes decisões e define o aspecto de nossa rotina. Daí, a importância de refletirmos sobre a questão com uma visão bíblica.

Sem entrar, por ora, em considerações mais profundas sobre “chamamento”, gostaria de ressaltar algumas considerações bastante pertinentes da obra O Cristão e a Cultura (Ed. Cultura Cristã, 2006, 2ª ed., trad. Elizabeth S. C. Gomes) acerca do cristão e sua atividade profissional (negritos meus).

Como uma pessoa moderna pode entender o salmista perdido na impotência do seu lugar no universo? [...] (SL 8.3-6,9) Não é de admirar que João Calvino tenha iniciado suas Institutas dizendo que começar pela contemplação da própria existência, ou da existência de Deus, levava finalmente ao mesmo lugar. Não temos existência independente, mas se tirarmos Deus da nossa visão de mundo (e sabemos que os cristãos também podem fazer isso) ou se o empurrarmos para a área “espiritual”, enquanto nosso trabalho diário continua sendo basicamente “secular”, a maior parte do nosso tempo será gasta naquilo que consideramos ser uma atividade desprovida de significado. É a teologia que dá significado a todas as atividades da existência humana.

Como, nos dias atuais, raramente relacionamos a teologia com a vida (ou seja, não ligamos o vertical com o horizontal), raramente somos confrontados com as reflexões do salmista. Raramente somos cativados pela percepção da nossa pequenez que se transforma na percepção de significado com base na vocação que Deus nos deu como suas criaturas especiais. O salmista não disse, depois de reconhecer a sua relativa insignificância diante da escala cósmica: “Mas afinal de contas, eu sou o diretor-executivo e consegui muito na minha carreira” [...] Sua importância vinha do reconhecimento, não do que havia realizado, mas do fato de que Deus havia lhe dado uma vocação. [...]

Pelo menos em teoria, se alguém tem essa perspectiva vertical e vê o seu trabalho como um serviço a Deus e ao próximo, até mesmo as tarefas mais simples ganham significado. [...] Deus nos dá a graça de ver toda a vida da sua perspectiva, tudo o que fizermos, por mais simples, mais comum, é feito sob os auspícios do nosso mestre divino. [...]

Um dia, um senhor [...] passou por um lugar em que havia uma construção em andamento. Ele perguntou aos trabalhadores: “O que estão fazendo?”. Um disse: “Estou quebrando pedras da pedreira”. Outro respondeu: “Sou responsável por fazer a argamassa que juntará as pedras”. Um terceiro homem, coberto de lama, empurrava um carrinho de mão, e parou apenas um tempo para dizer com prazer e orgulho: “Estou construindo uma catedral”. O que estamos fazendo com nossa vida? Trabalhando para o final de semana ou construindo uma catedral? Os três homens estavam envolvidos na mesma obra, mas somente um tinha uma visão geral da mesma. Longe da perspectiva transcendente (divina, vertical, teológica), vemos apenas os detalhes da rotina diária: eu registro informações de contabilidade, eu limpo a casa, eu julgo os casos no tribunal, eu digito a correspondência [...] e assim por diante. Porém, quando começamos a assinar as composições das nossas músicas do dia-a-dia com o “Soli Dei Gloria” – Só a Deus a glória – como Bach fazia, até mesmo o trabalho mais enfadonho ou corriqueiro torna-se divino.

Se até mesmo a tarefa mais enfadonha ganha nova dimensão ao ser considerada sob a perspectiva divina, o que dizer da ocupação à qual nos dedicamos com prazer? Quer trabalhemos com textos “cristãos” ou “seculares”, dia após dia, somos capacitados por Deus para traduzir para a glória dele. Se nos esquecermos disso, até mesmo o projeto mais gratificante perderá o sentido. Deus continuará a ser glorificado por meio de outros profissionais e outros trabalhos e continuará a suprir todas as nossas necessidades, mas perderemos parte da alegria de exercer nossa vocação.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Oficinas

Oficinas promovidas pela revista Língua Portuguesa em São Paulo:

Revisão de textos: gramática e estilo
07, 14, 21, 28 de janeiro às 19h30

Arquitetura do discurso: da palavra ao texto
12 e 19 de janeiro às 9h

Comunicação eficaz
09, 16, 23 e 30 de janeiro às 19h30

Formação inicial de escritores
15, 16, 21 e 22 de janeiro às 19h30

Informações e inscrições: aqui

Local: Editora Segmento
Endereço: Rua Cunha Gago, 412 - 6 º andar, Pinheiros - São Paulo
Tel: (11) 3039-5696 / 3039-5600
E-mail:
oficinas@revistalingua.com.br

Valores:

Valor Normal: 4x R$ 55,00
Valor promocional para assinantes: 4x R$ 44,00
Valor promocional até dia 20/12: 4x R$ 49,50

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Perfeitamente falhos


Alguns profissionais não têm margem muito ampla para cometer erros. É o caso de cirurgiões, pilotos e editores. Quem escolhe essas ocupações tende a buscar sempre resultados perfeitos.

Um bom tradutor precisa ser perfeccionista? A meu ver, a resposta é afirmativa com uma ressalva: só no trabalho. Easier said than done... mas é fato que surgem dificuldades quando essa característica transborda do âmbito profissional para outras áreas como a vida doméstica, aparência, hobbies e relacionamentos em geral.

É dessa questão que trata o artigo Unhappy? Self-Critical? Maybe You’re Just a Perfectionist de Benedict Carey, publicado no jornal New York Times. Abaixo, alguns trechos dignos de nota:

Unlike people given psychiatric labels, however, perfectionists neither battle stigma nor consider themselves to be somehow dysfunctional. On the contrary, said Alice Provost, an employee assistance counselor at the University of California, Davis, who recently ran group therapy for staff members struggling with perfectionist impulses. “They’re very proud of it,” she said. “And the culture highly values and reinforces their attitudes.” [...]

Ms. Provost said [the participants] in her program at U.C. Davis often displayed symptoms of obsessive-compulsive disorder — another risk for perfectionists. They couldn’t bear a messy desk. They found it nearly impossible to leave a job half-done, to do the next day. Some put in ludicrously long hours redoing tasks, chasing an ideal only they could see.

As an experiment, Ms. Provost had members of the group slack off on purpose, against their every instinct. “This was mostly in the context of work,” she said, “and they seem like small things, because what some of them considered failure was what most people would consider no big deal.”

Leave work on time. Don’t arrive early. Take all the breaks allowed. Leave the desk a mess. Allow yourself a set number of tries to finish a job; then turn in what you have.

“And then ask: Did you get punished? Did the university continue to function? Are you happier?” Ms. Provost said. “They were surprised that yes, everything continued to function, and the things they were so worried about weren’t that crucial.”

The British have a saying that encourages people to show their skills while mocking the universal fear of failure: Do your worst.

If you can’t tolerate your worst, at least once in a while, how true to yourself can you be?

sábado, 1 de dezembro de 2007

Constance Garnett e os russos

Quando comecei a ler Guerra e Paz de Tolstoy em inglês, a primeira coisa que procurei no livro foi uma introdução ou comentário sobre a tradutora Constance Garnett. Como se trata de uma daquelas edições populares da Barnes & Noble, o livro mal e mal tem capa, quanto mais informações relacionadas à tradução. Coincidentemente, semana passada, encontrei um artigo de David Remnick na revista New Yorker sobre Constance Garnett e outros profissionais que traduziram os grandes escritores russos. O artigo é longo, mas vale a pena.
Sobre o estilo por vezes desleixado de Garnet, Remnick comenta:

Garnett’s flaws were not the figment of a native speaker’s snobbery. She worked with such speed, with such an eye toward the finish line, that when she came across a word or a phrase that she couldn’t make sense of she would skip it and move on. [!!!] Life is short, “The Idiot” long. Garnett is often wooden in her renderings, sometimes unequal to certain verbal motifs and particularly long and complicated sentences.

O artigo também descreve o processo de trabalho de uma das traduções mais recentes de The Karamazov Brothers e fala do trabalho de Vladimir Nabokov como tradutor. Aliás, é dele o poema sobre a impossibilidade da tradução:

What is translation? On a platter
A poet’s pale and glaring head,
A parrot’s screech, a monkey’s chatter,
And profanation of the dead.
The parasites you were so hard on
Are pardoned if I have your pardon,
O Pushkin, for my stratagem.
I travelled down your secret stem,
And reached the root, and fed upon it;
Then, in a language newly learned,
I grew another stalk and turned
Your stanza, patterned on a sonnet,
Into my honest roadside prose—
All thorn, but cousin to your rose.

A tradução de Garnett pode não ser impecável, mas, uma vez que meu conhecimento de russo se limita a palavras como vodka, samovar e perestroika, não posso tecer nenhuma crítica fundamentada. De um modo geral, a linguagem é clara e, apesar de todos os nomes, sobrenomes, patronímicos, apelidos, frases em francês, notas de rodapé e notas finais (ufa!), acredite ou não, a história flui e envolve.

Ou a narrativa de Tolstoy é tão extraordinária que sobreviveu a uma tradução muito aquém do ideal, ou Garnett, apesar de suas falhas, conseguiu captar a voz do autor e as ironias, o heroísmo e o espírito da época. Talvez um pouco dos dois...

Para quem quiser ler mais sobre Tolstoy e os personagens de Guerra e Paz, a mesma revista traz um artigo esclarecedor de James Wood.